Leila Diniz, a incomum
Por Landim Neto*
Leila Diniz morreu aos 27 anos, em 14 de junho de 1972. Polêmica, vanguardista, defensora do amor livre e do prazer sexual, seu modo de vida e suas frases desconcentantes marcaram toda uma geração. Escandalizaram e apaixonaram muita gente. Viveu intensamente, como quem diz, em alusão a Torquato Neto: "Vim também para desafinar o coro dos contentes".
Formada professora primária, chegou a lecionar num jardim de infância no Rio. É verdade. Mas logo percebeu que essa não era a sua maior vocação. Através de um relacionamento amoroso que teve com o cineasta Domingos de Oliveira, iniciou brilhante carreira de atriz e foi trabalhar em telenovelas da TV Globo. Atuou também no cinema e teatro.
Celebridade, dedicou-se a quebrar tabus e convenções de sua época, da qual mostrava-e bem à frente. Em pleno período de repressão militar, por exemplo, chocou ao exibir a própria gravidez de biquíni, em praia carioca. E foi a partir de uma famosa entrevista que deu ao "O Pasquim", em 1969, que os militares instauraram a censura prévia no país durante os seus governos.
Devido aos "desregramentos verbais" e atitudes incomuns que impõe à própria vida, Leila Diniz passa a ser perseguida de muitas formas. Alvo da polícia política do regime militar pós AI5, acusada de ajudar militantes de esquerda, é obrigada a refugiar-se no sítio do apresentador Flávio Cavalcante. Ainda por esses tempos, a TV Globo do Rio de Janeiro nega-se a renovar seu contrato de atriz. Alega, para tanto, que não haveria papel de prostituta nas próximas telenovelas da emissora.
No entanto, com um talento, no mínimo, digamos, acima da média, logo volta aos palcos, no teatro de revista, e improvisa textos de Millôr Fernandes, José Wilquer e Oduvaldo Viana Filho. Por esses trabalhos, recebe o título de "Rainha das Vedetes", dado por Virgínia Lane.
Durante a vida, conviveu com grandes personalidades. Rui Guerra (com quem também fora casada), Chico Buarque de Hollanda, Marieta Severo e Jaguar (do Pasquim) foram algumas delas. E amou muitos homens maravilhosos, como dizia abertamente.
Leila Diniz, até na idade em que morreu em acidente aéreo na Índia, deu sinais (místicos, talvez) de que não gostava de qualquer companhia, seja em que situação fosse, para viver ou morrer. A idade da partida, 27 anos, é também a mesma em que morreram Joplin, Morrisson, Hendrix, Cobain e Amy Winehouse. O mais provável é que estejam juntos. Fazendo Nossa Senhora corar lá no céu. Ou apimentando ainda mais as festinhas do capeta.
Landim Neto* é do Conselho Editorial do Dever de Classe