Músicas proibidas pela ditadura militar no Brasil

26/05/2012 20:28

Do inventivo e inquieto Genival Lacerda ao genial Chico Buarque, passando pelos rotulados mesmo de "brega", como Benito di Paula, Odaí José ou Waldique Soriano, todos, por uma razão ou outra, tiveram músicas censuradas ou proibidas no período da ditadura militar no Brasil

Ouça no final da matéria doze músicas que sofreram algum tipo de censura ou foram proibidas. Destacamos a belíssima versão que Zizi Possi dá a "Disparada", consagrada originalmente na voz de Jair Rodrigues
 
Por Landim Neto*

Sobretudo em períodos de ditaduras mais explícitas, tal como ocorreu de 1964 à metade dos anos 1980 no Brasil, é sempre comum a censura ou probição aos artistas de uma forma geral, em particular a quem trabalha com música. Durante por exemplo essa época em nosso país, censores gastavam a tesoura e tentavam de todas as formas mutilar ou mesmo impedir de vez que várias composições fossem difundidas. E ninguém era poupado, independentemente de se era considerado pop, brega ou chique.

Chico, o mais censurado

Dentre os artistas preferidos pela censura, Chico Buarque foi, de longe, o mais procurado. O cerceamento era tamanho que o poeta recorria a pseudônimos, como Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, para não ver muitas de suas músicas irem parar nas prateleiras dos quarteis. Foi com esse artíficio que conseguiu brindar a todos com a música "Acorda, amor", em 1974, onde se referia à repressão contra quem se opunha aos militares.

Ninguém era poupado

Mas não apenas cantores de classe média, como Chico Buarque ou Milton Nascimento, eram importunados. Os chamados "bregas" também tiveram suas músicas fiscalizadas. Benito di Paula não foi visto com bons olhos pelos militares quando, em 1974, lançou "Tributo a um rei esquecido", em homenagem a Geraldo Vandré, músico paraibano autor de "Pra não dizer que não falei das flores", canção-hino contra a ditadura militar no Brasil. Odaí José também teve problemas. Ao lançar "Pare de tomar a pílula", em 1973, o governo Médici o considerou "perigoso", vez que nessa época era desenvolvida uma campanha de controle de natalidade no país. E ainda entre os "não-intelectuais", Waldique Soriano e sua "Eu não sou cachorro, não" deixaram os milicos de orelha em pé. Afinal, não era permitido sequer insinuar que havia injustiça social por aqui.

Um dado curioso nessa questão é que  a censura às vezes vinha de setores da própria população, que apoiavam o regime e se enquadravam na moral que os militares queriam impor a todo o país. Segundo Jeocaz Lee-Meddi, escritor nascido em Goiás, a música "Severina xique xique, de Genival Lacerda, por exemplo, foi contestada por famílias do Ceará, que viam na palavra "boutique" uma espécie de duplo sentido e um atentado aos bons costumes do lugar.

Tudo era motivo

Para censurar ou probir uma música não era preciso muita coisa. A bela "Pequeno mapa do tempo", de Belchior, foi censurada apenas porque recorre muito à palavra "medo", algo que aos generais soava como uma denúncia velada aos governos que faziam. E "Vaca profana", de Caetano Veloso mas interpretada por Gal Costa foi censurada, já nos finais da ditadura, sem que sequer se dissesse claramente por quê. 

O período foi sombrio. Mas as músicas, de muito valor.

*Landim Neto é do Conselho Editorial do Dever de Classe

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