A CPI do Cachoeira

28/04/2012 13:39

Por Homero de O. Costa, prof. Departamento de Ciências Sociais da UFRN

Os presidentes da Câmara dos Deputados, Marco Maia(PT/RS) e do Senado, José Sarney(PMDB/AP), anunciaram criação de uma CPI mista para investigar a relação do empresário Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira com parlamentares. Como se sabe, o inicio desse processo foi o conhecimento do resultado de mais uma grande operação da Policia Federal, chamada de “Monte Carlo”, que desmontou um sofisticado esquema de corrupção liderado por Carlinhos Cachoeira. Ao que tudo indica, os “tentáculos” são mais amplos do que o Congresso Nacional, envolvendo não apenas parlamentares, mas setores do Executivo, Judiciário  e parte da imprensa, embora o fato mais conhecido até agora seja o  do ex “arauto da moralidade” senador Demóstenes Torres (ex-DEM), acusado de usar o mandato para defender interesses do empresário.

Um dos aspectos relevantes dessa CPI  é a existência de um raro consenso, uma vez que parlamentares tanto da base aliada como da oposição se pronunciaram favoravelmente a sua criação.                

A criação da CPI do Cachoeira, além da possibilidade de revelar a extensão rede de relações de Carlinhos Cachoeira, assim como das relações históricas (e às vezes promíscuas) entre o chamado setor público x setor privado (elos do contraventor com administrações públicas), pode servir para revelar também o comportamento de alguns setores da mídia.              

De um lado, os que acusam a CPI como tentativa de atingir o PT e o governo Dilma Rousseff, tendo à frente o PIG (Partido da Imprensa Golpista) que encontra assim a oportunidade para que o “dispositivo midiático demotucano”se recomponha.                

Para Marcos Coimbra “confusa em seu discurso, dividida por conflitos internos, a oposição partidária avalia que a volta do assunto às manchetes é a uma oportunidade para adquirir novo fôlego. O mesmo vale para os veículos da mídia conservadora, que acreditam que assim poderão fazer seu acerto de contas com o “lulopetismo”.             

Por outro lado, a mídia conservadora e antipetista, vê na criação da CPI apenas estratégia do governo de desviar o foco das atenções para o julgamento de parlamentares envolvidos no esquema do “mensalão”.  É o caso de Ricardo Noblat para quem “A CPI do Cachoeira foi Lula quem fez”.  No artigo ele faz referência a uma reunião em São Paulo entre Lula e José Dirceu e diz que “Foi durante a reunião que nasceu a idéia de se criar uma CPI”, embora, curiosamente, mais adiante, afirme que “Dilma está empenhada em abortar a CPI de Lula”. Para Marcos Coimbra, não se pode associar “mensalão” com CPI do Cachoeira “O problema é que o escândalo Demóstenes e o “mensalão” são completamente diferentes. No primeiro, um político é suspeito de fazer o que os bandidos fazem. No segundo, alguns políticos são acusados de fazer o que todos fazem”. Portanto “Não são, nem de longe, a mesma coisa”(“as lições de Demóstenes” - Carta Capital, 18/4/2012).            

Para a revista Veja, que se enquadra também no “dispositivo midiático demotucano”, a criação da CPI é apenas “cortina de fumaça do PT para encobrir o maior escândalo de corrupção da história do país”. Na matéria “Eles querem apagar o “mensalão”, os jornalistas Daniel Pereira e Hugo Marques  afirmam que “o problema está nos objetivos subalternos da CPI, que os petistas e seus aliados mal conseguem esconder nas conversas: criar um fato novo e, assim, desviar o foco da atenção da opinião pública do julgamento do mensalão”. Curiosamente não há na matéria nenhuma referência aos telefonemas que o diretor da sucursal da revista em Brasília deu para Carlinhos Cachoeira. Segundo Leandro Fontes no artigo “O Brasil de Cachoeira” ele “manteve cerca de 200 ligações telefônicas com o bicheiro, segundo a PF”. E mais adiante “Um dos grampos da PF demonstra com precisão a ligação da quadrilha de Goiás com a Veja. Em conversa com o araponga Jairo Martins, cinegrafista do pagamento ao ex-diretor dos Correios, Cachoeira revela o seguinte: “porque os grandes furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles foram nós que demos”. Na matéria a única referência das conversas do jornalista é quando afirmam que “A oportunidade liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor associações destinadas a fraudar o Erário”. Se as informações foram relevantes e verdadeiras e não apenas fizeram um uso seletivo delas, só o conhecimento das conversas, de posse da justiça, pode revelar.          

Afinal, a quem interessa a CPI, ao governo ou a oposição? Os que acusam a base aliada de criar a CPI tendo como objetivo estratégico “ampliar o desgaste do que resta da oposição e a intenção de rivalizar na mídia com o julgamento do “mensalão”, se ampliará o desgaste da oposição, com o envolvimento não apenas do  senador Demóstenes Torres mas também de parlamentares do PSDB (incluindo o governador de Goiás), PPS, etc, tem um problema: Pode servir também aos propósitos da oposição, uma vez que  o esquema de Carlinhos Cachoeira, pelo que já se conhece, é bem mais amplo e inclui também parlamentares do PT (Rubens Otonni/GO) e denúncias envolvendo o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT-DF) e quanto à “rivalização” com a mídia, não há certeza se haverá mesmo julgamento do “mensalão” este ano e assim a CPI não teria com o que “rivalizar”.               

No entanto, pelo que já foi divulgado, os motivos para a criação da CPI são mais do que justificáveis. Espera-se apenas (e não é desejar pouco) que seja levada às últimas conseqüências.

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