Um irreverente operário da arte
Por Landim Neto.
Tive o prazer de conhecer o Cícero Manoel (foto), em 1984. Iniciamos o curso de Letras juntos, na Universidade Federal do Piauí. Muito jovem à época, pouco mais de dezesseis anos, Cícero esbanjava o seu jeito descontraído e ironicamente sutil de ser. Em vários momentos do curso, parecia mais um adolescente ocupado em perturbar a ordem ditada pelo senso-comum tão comum da sala de aula. Na verdade, refletia já nesse tempo o profundo caráter contestador que é marca de sua personalidade, avessa à mediocridades e hipocrisias.Com ele aprendi algumas coisas muito importantes, dentre as quais destaco uma. Eu gostava (e continuo gostando) de música – em particular do chamado rock`n roll. Uma vez disse a ele que ia comprar um disco do U2. Cícero me explicou que não se deve gastar dinheiro com esse tipo de banda, porque é música que sai toda hora nas rádios e TV`s, é puro comércio. E me deu uma fita do Patrick Ball, músico que toca harpa e de fato pode alegrar espíritos. Me mostrou ainda o que é, na visão dele, rock, música de qualidade e o que é mero embuste em relação a isso. Destacou positivamente Bob Dylan, Eric Clapton, Joe Cocker...
Ainda nesse tempo, Cícero fez sua primeira exposição artística, na UFPI. Levou vários trabalhos “experimentais”. Um deles ficou na minha memória: um amontoado de terra, areia e, em cima, várias baganas de cigarro. Nunca entendi o que queria dizer, acho que ninguém. Mas aquilo chamava a atenção da maioria das pessoas que passavam pelos corredores do CCHL.
A partir daí, Cícero não parou mais. Estudou, pesquisou, leu, produziu e expôs em vários lugares do País. É um grande quadro das artes plásticas, no sentido literário que tal afirmação pode ter.
Cícero mantém hoje o Espaço Cultural São Francisco, oriundo de um pequeno comércio herdado de seus falecidos pais, no Mercado do Mafuá, em Teresina-Piauí. Quem passa por lá, encontra desde botões e outras bugigangas até livros raros e exposições sofisticadas de quadros, esculturas, fotografias e outras peças e relíquias da arte. Cícero é quem coordena, informa, vende, opera... É enfim um irreverente operário da arte.
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