Sobre a Frente Popular em Belém e o papel da LIT e PSTU

30/09/2012 08:00

Compilado por Luzanildo Frazão, ex-militante do PSTU

A polêmica sobre a Frente Popular em Belém (PSOL, PCdoB e PSTU) nos remete à velha questão do ser ou não ser da filosofia shakesperiana, e é importante para analisar o quadro das organizações ditas do espectro revolucionário, tais como a LIT e o PSTU. E daí poder inferir através da teoria marxista revolucionária, mais explicita no viés Trotskista, sobre o combate às frentes populares.

Sobre a tática de frente popular, é bom que se diga que sempre foi um dos divisores de águas que opuseram as duas principais correntes do movimento operário internacional, o stalinismo e o trotskismo. Foi o próprio Trotsky quem primeiro chamou a atenção para o descalabro da política dos stalinistas aplicada na tática de frente popular. Lembrando que somente nas condições de um país onde não tivesse havido uma revolução burguesa se poderia p

ensar numa política de alguma unidade com setores da burguesia, Trotsky defendeu que na época da Revolução Russa os bolcheviques somente realizaram acordos práticos com as organizações revolucionárias não operárias em circunstâncias extremas, e limitadas a acordos táticos. Não obstante, para o revolucionário russo, a Frente Popular significava "uma aliança duradoura de classes diferentes ligadas para todo um período", para concluir de maneira categórica: "a política de Frente Popular é uma política de traição".

Em todo o caso, na sua primeira prova histórica nos anos 30, a experiência da Frente Popular, surgida na própria França, em 1936, e na Espanha no mesmo ano, pareceu confirmar os vaticínios de Trotsky. Na França, ainda nos anos 30, após ter conquistado grandes vitórias eleitorais numa conjuntura de grande ascenso do movimento operário e de iminente crise revolucionária, com o PCF próximo de tomar o poder, os seus líderes conclamaram as massas a apoiarem a Frente Popular com o objectivo de «unificação da nação francesa». Em Janeiro de 1938, após ter sido chamado para um governo de união nacional liderado por Blum, que pretendia comprometer os comunistas e os conservadores da Federação Republicana, o PCF admitiu formar um governo com a burguesia, com Thorez, o seu secretário-geral, considerando que a aceitação da proposta reforçaria a resistência a Hitler, ao mesmo tempo que facilitaria a luta da Frente Nacional contra o fascismo. O resultado foi que em setembro, sem que os comunistas chegassem a compor o governo, o radical Daladier assinou o Acordo de Munique, junto com o Reino Unido, a Alemanha e a Itália, provocando uma das mais vergonhosas capitulações das nações democráticas ao fascismo, implodindo de vez a Frente Popular.
“É preciso estudar Outubro”, este é o título dado por Trotsky ao primeiro capítulo de seu livro “As lições de outubro” (escrito em setembro de 1924), no qual ele se dedica a tirar as lições do combate travado pelos bolcheviques de fevereiro até a tomada do poder na Rússia, em outubro de 1917. Esse livro é um combate contra a escalada da burocracia stalinista que começa por “desfigurar” e terminará por “trair” a revolução. É um combate contra a política das ditas “Frentes Populares”, da qual alguns bolcheviques entre nós reivindicam hoje serem herdeiros. As Frentes Populares se opõem à unidade da frente proletária, a Frente Única, que significa a estratégia de mobilização revolucionária das massas na linha de ruptura com a burguesia.

A forma sob a qual essa questão se encontra colocada varia e variará sempre segundo o país, as épocas – a propósito dos Estados Unidos, por exemplo, Trotsky escreveu, no final dos anos 1930, após a destruição da grande crise econômica que abalou a América e o mundo inteiro: “nos Estados Unidos, a Frente Popular tomou a forma do ‘rooseveltismo’, quer dizer, o voto dos ‘radicais’ socialistas e comunistas em Roosevelt”. Se a forma muda, o pano de fundo continua o mesmo: “a política do que chamamos ‘frentes populares’ advém inteiramente da negação das leis da luta de classes”.

“Esquece-se frequentemente, escreveu Trotsky, que o maior exemplo histórico de Frente Popular é o da revolução de fevereiro de 1917. De fevereiro a outubro, os mencheviques e os socialistas revolucionários, que constituem um bom paralelo com os ‘comunistas’ e os social-democratas de hoje, fizeram uma aliança estreita e em coalizão permanente com o partido burguês dos ‘cadetes’, com os quais eles formaram uma série de governos de coalizão. Sob o emblema de Frente Popular, se encontrava toda a massa do povo, inclusive os sovietes dos operários, dos camponeses e dos soldados. É claro que os bolcheviques participaram dos sovietes. Mas, eles não fizeram nenhuma concessão à Frente Popular. Eles exigiam a ruptura (sublinhado pelo autor) com essa Frente Popular, a destruição da aliança com os cadetes, e a criação de um verdadeiro governo operário e camponês. Todas as Frentes Populares da Europa são apenas uma pálida cópia e frequentemente uma caricatura da Frente Popular russa de 1917”.
 
Portanto, ao fazer-se analogia com o caso de Belém do Pará, qual seria a atitude das organizações LIT e PSTU? Deixo as reflexões para quem quiser se ater ao que falou e escreveu o dirigente León Trotsky. Pois as minhas eu já as tenho.
 
 

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