Sobre a Frente Popular em Belém e o papel da LIT e PSTU
Compilado por Luzanildo Frazão, ex-militante do PSTU
A polêmica sobre a Frente Popular em Belém (PSOL, PCdoB e PSTU) nos remete à velha questão do ser ou não ser da filosofia shakesperiana, e é importante para analisar o quadro das organizações ditas do espectro revolucionário, tais como a LIT e o PSTU. E daí poder inferir através da teoria marxista revolucionária, mais explicita no viés Trotskista, sobre o combate às frentes populares.
Sobre a tática de frente popular, é bom que se diga que sempre foi um dos divisores de águas que opuseram as duas principais correntes do movimento operário internacional, o stalinismo e o trotskismo. Foi o próprio Trotsky quem primeiro chamou a atenção para o descalabro da política dos stalinistas aplicada na tática de frente popular. Lembrando que somente nas condições de um país onde não tivesse havido uma revolução burguesa se poderia p
Em todo o caso, na sua primeira prova histórica nos anos 30, a experiência da Frente Popular, surgida na própria França, em 1936, e na Espanha no mesmo ano, pareceu confirmar os vaticínios de Trotsky. Na França, ainda nos anos 30, após ter conquistado grandes vitórias eleitorais numa conjuntura de grande ascenso do movimento operário e de iminente crise revolucionária, com o PCF próximo de tomar o poder, os seus líderes conclamaram as massas a apoiarem a Frente Popular com o objectivo de «unificação da nação francesa». Em Janeiro de 1938, após ter sido chamado para um governo de união nacional liderado por Blum, que pretendia comprometer os comunistas e os conservadores da Federação Republicana, o PCF admitiu formar um governo com a burguesia, com Thorez, o seu secretário-geral, considerando que a aceitação da proposta reforçaria a resistência a Hitler, ao mesmo tempo que facilitaria a luta da Frente Nacional contra o fascismo. O resultado foi que em setembro, sem que os comunistas chegassem a compor o governo, o radical Daladier assinou o Acordo de Munique, junto com o Reino Unido, a Alemanha e a Itália, provocando uma das mais vergonhosas capitulações das nações democráticas ao fascismo, implodindo de vez a Frente Popular.
“É preciso estudar Outubro”, este é o título dado por Trotsky ao primeiro capítulo de seu livro “As lições de outubro” (escrito em setembro de 1924), no qual ele se dedica a tirar as lições do combate travado pelos bolcheviques de fevereiro até a tomada do poder na Rússia, em outubro de 1917. Esse livro é um combate contra a escalada da burocracia stalinista que começa por “desfigurar” e terminará por “trair” a revolução. É um combate contra a política das ditas “Frentes Populares”, da qual alguns bolcheviques entre nós reivindicam hoje serem herdeiros. As Frentes Populares se opõem à unidade da frente proletária, a Frente Única, que significa a estratégia de mobilização revolucionária das massas na linha de ruptura com a burguesia.
A forma sob a qual essa questão se encontra colocada varia e variará sempre segundo o país, as épocas – a propósito dos Estados Unidos, por exemplo, Trotsky escreveu, no final dos anos 1930, após a destruição da grande crise econômica que abalou a América e o mundo inteiro: “nos Estados Unidos, a Frente Popular tomou a forma do ‘rooseveltismo’, quer dizer, o voto dos ‘radicais’ socialistas e comunistas em Roosevelt”. Se a forma muda, o pano de fundo continua o mesmo: “a política do que chamamos ‘frentes populares’ advém inteiramente da negação das leis da luta de classes”.
“Esquece-se frequentemente, escreveu Trotsky, que o maior exemplo histórico de Frente Popular é o da revolução de fevereiro de 1917. De fevereiro a outubro, os mencheviques e os socialistas revolucionários, que constituem um bom paralelo com os ‘comunistas’ e os social-democratas de hoje, fizeram uma aliança estreita e em coalizão permanente com o partido burguês dos ‘cadetes’, com os quais eles formaram uma série de governos de coalizão. Sob o emblema de Frente Popular, se encontrava toda a massa do povo, inclusive os sovietes dos operários, dos camponeses e dos soldados. É claro que os bolcheviques participaram dos sovietes. Mas, eles não fizeram nenhuma concessão à Frente Popular. Eles exigiam a ruptura (sublinhado pelo autor) com essa Frente Popular, a destruição da aliança com os cadetes, e a criação de um verdadeiro governo operário e camponês. Todas as Frentes Populares da Europa são apenas uma pálida cópia e frequentemente uma caricatura da Frente Popular russa de 1917”.
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