Sobre a crise na Espanha e a fala do professor Homero Costa

04/06/2011 19:30

Flávio Machado, jornalista e mestrando em História Contemporânea pela UFRJ.

Em primeiro lugar, parabenizo os responsáveis pelo site Dever de Classe. É de ótimo nível e tem primado pela difusão de ideias no campo político e outras, em particular relativas às questões educacionais, numa abordagem simples e esclarecedora. Chama atenção também o aspecto democrático da página, que publica inclusive ataques à sua própria linha editorial. Como jornalista, considero isso muito importante. Espero que postem também este artigo que ora envio.

Tenho acompanhado os textos do professor Homero de Oliveira Costa. São todos de excelente nível, sobretudo os que tratam de Reforma Política. É, pelo que nos consta, um quadro muito qualificado do ponto de vista acadêmico, daí a grande performance que apresenta em seus escritos.

No entanto, fraternalmente, gostaria de discordar desse mestre em dois pontos de sua brilhante análise sobre a crise ora instalada na Espanha. Parece-me um tanto equivocada a afirmação de que: A crítica dos participantes do movimento não é apenas ao governo “socialista” de Zapatero, como aos partidos políticos e os políticos em geral. Em seu manifesto deixa claro que é um movimento antipartidos, antisindicatos, mas não antipolítico”. (grifos nossos).

É bem verdade que os partidos políticos em todo o mundo perderam credibilidade para setores cada vez maiores da população. O mesmo se pode dizer dos sindicatos laborais, também em baixa inclusive para os seus próprios filiados. Mas o fenômeno que ora ocorre na Espanha, apesar do citado manifesto, não é ou foi conduzido pelo espontaneísmo das massas. Muito pelo contrário. Várias organizações estudantis, partidos e sindicatos dirigidos por adeptos do marxismo revolucionário estão ou estiveram à frente do mesmo. A revolta das massas, portanto, não é contra todos os partidos ou sindicatos indistintamente. A indignação, em particular, rechaça os partidos tradicionais do país, os sindicatos e as centrais atreladas ao Estado, como a CCOO e a UGT.

Outro aspecto do artigo do nobre professor Homero que ouso crititicar refere-se ao PSOE. Diz ele: “O PSOE, no centro da crise e principal derrotado nas eleições de 22 de maio de 2011, nunca foi socialista nem operário”. (grifos nossos)

Não incorre em erro quem diz que o Partido Socialista Operário Espanhol adota hoje uma política de colaboração de classes com a burguesia. Sob esse aspecto, de fato não é na atualidade operário ou muito menos socialista. No entanto, se olharmos sem paixão para a história desse partido, percebemos que nem sempre as coisas se deram assim.

Na Espanha, durante o segundo biénio (ou "biénio negro") da Segunda República, alguns dirigentes do partido se envolveram nos eventos revolucionários em Astúrias, conhecidos como a Revolução de 1934, e depois de começada a Guerra Civil o PSOE foi colocado na ilegalidade pela facção franquista justamente por assumir posições socialistas.

Por conta disso também é que foi banido por Franco em 1939 e só voltou à legalidade novamente em 1977.  Portanto, considero injusto afirmar-se que o PSOE “nunca foi socialista nem operário”.

Mas respeito as posições do nobre professor Homero.

Clique e leia o artigo do prof. Homero