PSTU e PSDB: Contradições que se encontram no SINDSERM Teresina

30/12/2013 10:22
Por Maria Madalena Nunes, historiadora, militante do PSOL e das direções da FENAJUF e SINTRAJUF-PI. É também Bacharela em Direito e Especialista em Direitos Humanos

Se nada é impossível de mudar, como nos ensina Bertold Brecht, podemos também dizer que nada é impossível de acontecer. Isso fica claro, guardando enorme contradição, na ação do PSTU/Conlutas ao fazer alianças com o PSDB/Prefeitura na Assembleia do Sindserm Teresina do último dia 18/12/2013. A contradição está em que, enquanto Brecht nos coloca numa perspectiva animadora, motivando pessoas e movimentos sociais a acreditar na nossa capacidade de luta, organização e transformação da sociedade, visando uma ação coletiva de superação da subjugação humana em que poucos exploram uma grande maioria que precisa reagir e pegar a história nas mãos como a única forma de acabar a exploração capitalista; O PSTU/Conlutas, em posição contrária e descolada das práticas da esquerda e da resistência ao modelo de opressão, prefere aprofundar a histórica exploração da prefeitura contra a categoria de servidores municipais, que mesmo em mais uma longa greve na educação, teve que presenciar a subjugação de parte da “direção” (PSTU-CSP-Conlutas) do Sindserm à mesma prefeitura do PSDB, que há mais de 25 anos à frente do poder municipal, reage com braço de ferro às históricas lutas dos servidores municipais. 

É bom esclarecer que a referência “direção do Sindserm” é só um elemento de como se comporta o PSTU/Conlutas nesse sindicato, sendo certo que desde o primeiro momento, usurpam e se apropriam de uma direção construída num esforço coletivo da esquerda socialista, organizada ou não em partidos políticos, com o propósito de retirar das mãos da prefeitura o sindicato da categoria. No entanto e desgraçadamente, a vitória ficou pela metade, pois se é certo que conseguimos retomar o sindicato para as mãos da categoria, também é certo que o seu controle apenas mudou de mãos: saiu da prefeitura e passou ao PSTU. Simples assim, mesmo! Mas com muito desgaste da esquerda como um todo e do Movimento Sindical combativo em particular, pois esse controle vai desde o momento da posse, passando por um congresso com o único objetivo de filiação à Conlutas e ainda a manobra de destituição de tesoureira eleita, culminando com o total controle do Sindicato, digno do “modo cutista e petista” de manobrar o movimento, fechando com “chave de ouro” numa aliança PSTU/PSDB. Objetivos? Prorrogar o mandato dos diretores PSTU/Conlutas, minoria na direção do Sindserm e registrar a chapa da prefeitura nas eleições do mesmo Sindicato. 

Como desgraça pouca é bobagem, de quebra cassaram também uma Comissão Eleitoral escolhida pela base sem sequer lhes permitir o direito elementar de defesa. Contando ninguém acredita, é preciso escrever e reconhecer a firma. Mas pode deixar que a assessoria jurídica do Sindserm, assumidamente PSTU/Conlutas, conclui as manobras e oficializa no cartório. 

O problema é que enquanto no Piauí essa degeneração acontece de forma escancarada, diga-se, como forma de manipulação e controle do Sindiserm Teresina, excluindo militantes do PSOL e de outras organizações, nacionalmente o PSTU chama em seu sítio oficial a formação de uma "frente de esquerda" para uma disputa ideológica nas eleições gerais de 2014, como “alternativa de classe e socialista que seja, no processo eleitoral, a expressão das lutas, das reivindicações e das necessidades dos trabalhadores e da juventude do nosso país”. E aproveita para criticar o Randolfe, nome indicado no Congresso do PSOL como candidato a presidente, exatamente por usar as mesmas práticas aqui sinalizadas: alianças com a direita, frisando que “essa candidatura precisa recusar o caminho da conciliação de classes e da aliança com os empresários que foi trilhado pelo PT” . E nós acrescentamos que é preciso recusar manobras, aparelhamento, fraudes, entre outros vícios, condenáveis e condenados pela esquerda e que não passaram despercebidos pelas “jornadas de junho”, cujas críticas não se limitaram ao poder constituído, mas também a esse modelo arcaico, degenerado, burocratizado e com práticas de direita, presentes nos movimentos sociais e que o Movimento Sindical é um retrato vivo, em que pese à resistência dos trabalhadores na luta por organizações de esquerda combativa, socialistas, autônomas e independentes de partidos políticos, governos e patrões. 

Queremos dizer que nós do Partido Socialismo e Liberdade temos firme a defesa dos princípios socialistas, e enquanto Insurgentes do Bloco de Esquerda do PSOL, intransigentemente somos contra alianças com a direita, e se o somos em relação ao campo institucional, ainda com mais firmeza somos contra alianças com os nossos algozes dentro das nossas organizações que muito nos custa construí-las e que dependem da contribuição individual e coletiva dos trabalhadores. Para nós, isso não representa uma aliança, mas uma traição à classe e ao projeto socialista. 

Dessa forma, soa falso esse chamado do PSTU pela unidade no campo institucional, quando dentro do movimento entrega nossas lutas ao inimigo de classe e tenta destruir a perspectiva de superação da sociedade capitalista, pois na luta de classes, toda vez que forças ideologicamente antagônicas se unem como expressão de ódio a um grupo de esquerda, certamente estão colocando em risco os nossos sonhos e é preciso firmeza e determinação para não permitir que roubem nossas rosas e destruam nossos jardins, para não dizer que não falamos das flores e do nosso poeta Bertold Bretch. 

Merecemos um ano melhor, com mais coerência, mais lutas vitoriosas e um 2014 sem alianças espúrias, sejam nas eleições ou em nossas organizações. 

Teresina, 24 de dezembro de 2013. 

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