Protestos no Brasil e algumas lições até agora

23/06/2013 16:29

Embora ainda em curso em praticamente todo o país, a onda de protestos já aponta algumas lições. A primeira e mais óbvia delas é que o povo não suporta mais passivamente a política econômica do governo federal, que destina todo ano bilhões a banqueiros e demais parasitas do dinheiro público e um salário mínimo que não dá sequer para uma família de quatro pessoas sobreviver dignamente por uma semana. E a segunda, também muito à vista, é que o PT e a CUT não conseguem mais com "mãos de ferro" impedir que o povo saia às ruas para vaiar seus governos e tudo de ruim que representam aos interesses coletivos. As "mãos de ferro" a favor do famoso "modo petista de governar" começam a criar ferrugem 

Da Redação

Ganharam muita força as manifestações em grandes cidades do país, a princípio contra a precariedade do transporte público e a carestia do seu custo para milhões de estudantes, assalariados, subempregados e desempregados Brasil afora. Em São Paulo, onde os atuais protestos se iniciaram, a repercussão ultrapassou fronteiras e alcançou várias partes do mundo. Periódicos como El Clarin e The New York Times fizeram registros, em particular quanto à violenta repressão policial contra os manifestantes, comandada por Alckmin (PSDB) e Haddad (PT), sob o olha complacente do governo Dilma. Meio "perdidão", este governo preferiu inicialmente qualificar tudo como "atos de vandalismo e/ou luta partidária" para, depois, ir à TV fazer um discurso oco que não aponta saídas concretas para conter os ímpetos de luta da população, que nem de longe reclama apenas dos serviços de transporte do País.

"Algumas lições até agora"

A primeira e mais óbvia delas é que o povo não suporta mais passivamente o arrocho salarial e as consequências ruins que traz. Segundo o DIEESE, o salário mínimo de maio último deveria ter sido R$ 2.873,56. Isto para atender as necessidades básicas de uma família de dois adultos e duas crianças. Ou seja, com os R$ 678,00 pagos pelo governo Dilma, uma família desse porte não sobrevive de forma modesta nem por uma semana. Quem aguenta?

Esse salário mínimo ruim do País fica ainda pior se levarmos em conta a precariedade e a carestia do transporte público, bem como as tarifas elevadas de água, luz e telefone. Isto sem falar nos péssimos serviços de saúde e educação públicas, que também vivem emperrados.

Ao tempo em que ignora os reais interesses coletivos, o governo Dilma segue os exemplos de FHC, Sarney, Itamar e outros da mesma estirpe e destina a maior parte do Orçamento da União para pagar juros da eterna dívida pública. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, até o dia 1º de junho de 2013 o governo federal gastou R$ 406.396.493.604 = 2,7 bi / dia com essa agiotagem. E, segundo ainda essa mesma fonte, em 2012 foram gastos também com isso 43,98% do Orçamento do País.

Diante dessa política econômica e de suas consequências, o povo pegou carona nos protestos iniciais contra o aumento de vinte centavos dos transportes em São Paulo e disse em todo o Brasil, muitos de forma bem irritada: "Dilma, ou muda essa bosta de política econômica ou vamos parar o País!"

"A CUT e o PT perderam a patente dos movimentos sociais"

Outra lição bem à vista nesse processo é o fato de o PT e a CUT não conseguirem impedir que o povo saia às ruas para contestar os seus governos, em particular o Federal. Se não nos falha a memória, um quadro do PSTU, salvo engano Euclides de Agrela, à época do mensalão, comentou sabiamente sobre isso. Dizia ele que "o maior trunfo do PT e da CUT era justamente a enorme capacidade dessas organizações para impedir o povo de ir às ruas contra seus governos", justamente pelo duro controle que têm da ampla maioria das entidades sindicais brasileiras. E reforçava mais ou menos assim: "A CUT e o PT podem até não conseguir levar o povo às ruas para aplaudir Lula & CIA. Mas, com mãos de ferro, impedem o contrário, ou seja, que o povo saia de dentro de casa para vaiar o famoso modo petista de governar". Agora, os protestos em todo o País sinalizam que essas "mãos de ferro" começam a criar ferrugem.

Várias outras lições também ficam bem claras. Uma delas é ainda a enorme fragilidade das organizações de esquerda que se mantêm firmes na oposição aos governos do PT e à direita tradicional. PSOL, PCB, PSTU e PCO, os quatros principais, não conseguem se localizar de forma a apresentar suas políticas como saídas concretas para os anseios da maioria dos manifestantes. Mas isso é tema para outra discussão...

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