Pequeno ensaio sobre o alcoolismo

24/05/2011 17:49

Por *Marson Cleiton Teixeira de Carvalho

Definido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como doença, sendo classificada internacionalmente desde 1967 (CID-8), o alcoolismo ou o simples uso do álcool ainda que não de forma dependente, tem causado avarias profundas na estrutura social e econômica do Brasil.

Alguns números são estarrecedores.  Aproximadamente 4% das mortes em todo mundo são decorrentes do uso do álcool segundo a OMS. A mesma fonte informa também que quase uma em cada dez mortes entre jovens com idade entre 15 e 29 anos é relacionada com a bebida.  Dentre os problemas relacionados ao uso descontrolado do álcool destaca-se: Diminuição das funções cerebrais, câncer, cirrose, impotência, males cardíacos, riscos a gravidez, acidente de trânsito, depressão e suicídio.  Já no Brasil, os números são bastante críticos e não menos preocupantes, pois pesquisa realizada pelo instituto de psiquiatria do Hospital das Clinicas de São Paulo informa que 15% da população brasileira é alcóolatra e que o país gasta 7,3% do PIB que é de aproximadamente U$ 2 trilhões com problemas relacionados ao álcool enquanto que a indústria produtora de álcool gasta o equivalente a 3,5% do PIB em sua produção.  O Brasil é atualmente o 5º maior produtor mundial de álcool e possui a 3ª maior empresa, a ambev.  Em pesquisa inédita do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre saúde nas escolas, 71,4% dos estudantes, a maioria entre 13 e 15 anos e todos cursando o 9º ano do ensino fundamental, disseram ter consumido bebida alcoólica alguma vez na vida.  E, a última pesquisa revela que o número de mulheres usuárias de álcool em nosso país aumentou de 8,2%  para 10,6%  entre 2006 e 2010.

Pois bem meus caros senhores, senhoras e jovens de todas as idades, se analisarmos os dados acima chegaremos a uma triste e óbvia conclusão: Definitivamente o uso do álcool como bebida não nos traz benefício algum, pelo contrário, a sociedade brasileira tem, inclusive pago um alto preço pela sua autodestruição.  Como é que a nação gasta mais de 7% do total da riqueza produzida pelo povo para tentar resolver os problemas decorrentes do uso da substância enquanto a indústria gasta o equivalente a metade desse valor para produzi-la?  Isto é contra a própria lógica do capitalismo que tem no lucro sua principal característica.  O governo gasta, portanto, um valor pecuniário duas vezes maior que aquele investido em sua geração para tentar revolver problemas de um mal totalmente desnecessário.  Mas o fato é: ainda que fosse vantajoso para os cofres públicos, em sendo uma substância que causa dependência química ao indivíduo jamais poderia ter seu consumo estimulado.  E nesse aspecto, entendo que a responsabilidade é de todos.  Do governo quando legaliza o consumo, dos pais quando ingerem a bebida na frente dos filhos, da celebridade quando faz a propaganda, enfim...  É aquela coisa;  constrói-se com uma mão e destrói-se com a outra.  O grande problema nessa equação é que a destruição anda numa velocidade mais rápida e quase que irreversível que a construção de um novo paradigma de cultura do não consumo que se quer estabelecer principalmente para o jovem.  É sabido que o consumo de álcool em nosso país também é um problema cultural, e em sendo, logicamente que mudá-lo não é tarefa fácil, nem simples, pois não basta só uma Lei.  É preciso acima de tudo um trabalho sincronizado de todos, mas um trabalho que envolva não só a teoria, mas e principalmente a prática, a prática do dia-a-dia onde vamos dizer não, não ao primeiro gole, não ao produto nas prateleiras, não aos impostos dele advindos, não à propaganda, não ao cachê.  Pois bem, como se pode ver serão necessários tantos nãos para dizermos sim. Sim à vida, sim ao amor, , sim a tolerância, sim a família, sim a harmonia, sim à verdadeira paz, pois a alegria, a paz e a harmonia advinda  do efeito etílico são efêmeras e travestidas de uma falsa ilusão.

De todos esses dados, o que mais me chamou a atenção foi o do IBGE, que aponta 71,4% dos jovens com idades entre 13 e 15 anos já terem provado álcool.  Se nossa sociedade, que é um reflexo da família, já se encontra desestruturada por falta de tantas virtudes, como o caráter, a honestidade, o respeito enfim... perdidas  talvez por conta da entrada das drogas, como o álcool, do consumismo exagerado, e de tantas outras coisas que nada somam, só desagregam.  Se quisermos salvar as novas gerações e preservar o que ainda nos resta, temos que começar logo. 

Enquanto escrevia esses dados conversava comigo mesmo e me questionei:  Será que pessoas como  jogadores de futebol, artistas, desportistas que têm uma penetração muito forte no meio da juventude, influenciando-a em seus comportamentos, atitudes, ditando novos costumes e hábitos, no vestir, no calçar, no falar e, até no modo de pensar, têm consciência da real consequência de seus atos quando posam ao lado de uma garrafa de cerveja divulgando-a e convocando a todos para que a consumam?  Acredito que muitos dos dependentes de hoje, foram jovens influenciados ontem que também de alguma forma influenciarão os jovens de amanhã, fechando assim o maldito ciclo da autodestruição.  Reflitamos sobre nossos atos, pois todos aqueles que de alguma maneira, ainda que involuntariamente, estimule  o uso do álcool ou dele faça uso “moderadamente”, por vezes torna-se o primeiro a condenar as atitudes daqueles que o ingeriram abusivamente.  Mas como condenar, um indivíduo que praticou atos em condições de desequilíbrio psicológico, de descontrole de suas faculdades mentais?  Será que poderemos exigir moderação de um indivíduo que bebe uma substância que é um agende causador de dependência química cientificamente comprovado?  Se uma substância causa dependência, existirá de fato níveis seguros de ingestão?  Parece-me ser uma questão bastante complexa, onde todos deverão irmanar-se na busca de uma solução, pois trata-se de uma problema que a priori suas causas são individuais, mas suas consequências atingem o coletivo, e se todos são afetados, unir-nos-emos.

Portanto, meus senhores, senhoras e jovens de todas as idades precisamos urgentemente dá um basta nesse terrível ciclo do mal, tratando do passado, preservando e resgatando o presente e protegendo o futuro.  Basta de mortes, basta de dependência, basta de internações, basta de depressões, basta de tristezas, basta de desamor.  Conclamo, pois, a todos os brasileiros e terráqueos a uma importante missão:  Trocar todos os avisos de BEBA COM MODERAÇÃO, por NÃO BEBA! pois quem vicia quer viciado, quem ama quer ser amado e dependência química e moderação não andam lado a lado. Começos hoje, pois talvez amanhã só  nos reste o muro das lamentações.

*Marson Cleiton Teixeira de Carvalho é  Biólogo e Professor. (marsoncleiton@msn.com)