O PSTU e as doações de empresários à Frente de Esquerda que compõe com o PSOL em Belém

23/09/2012 14:25

Em nota publicada no site do PSTU, a comprovação de que Edmilson e o PSOL aceitaram doações de empresários à campanha eleitoral da Frente "Belém nas mãos do povo". E agora, o PSTU vai romper ou permanecerá nessa Frente e na contradição que ele mesmo traz a público?

Por Landim Neto*, editor do Dever de Classe

O PSTU publicou em seu portal um texto onde denuncia com dados irrefutáveis que empresários doaram dinheiro à campanha de Edmilson Rodrigues à prefeitura de Belém. Nessa mesma Nota, exige com bons argumentos que esse candidato e o PSOL revejam tal medida, vez que, como explicitam, "sem independência financeira não existe independência política".

A partir desse documento, e levando em conta que nem Edmilson ou o PSOL deram até agora qualquer resposta no sentido de rever esse tipo de politica e atender às exigências do PSTU, é possível se fazer algumas ilações. A principal delas, a nosso ver, é que a candidatura a prefeito da Frente "Belém nas mãos do povo" muito provavelmente não passe de mais um blefe eleitoral com viés de esquerda, a serviço dos velhos interesses de grupos econômicos e das  práticas de controle do setor público pela burguesia. 

E é Williame Pessoa, dirigente do PSTU de Belém e autor dessa Nota, quem nos convence disso. Veja o que ele nos diz:

"Um fato grave ocorreu em relação à campanha da Frente “Belém nas Mãos do Povo”, encabeçada pelo companheiro Edmilson Rodrigues   (PSOL), na qual nós do PSTU estamos inseridos. Um total de R$ 389.405,57 já foram doados por empresas a sua campanha"1. (Grifos nossos)

E no primeiro parágrafo de seu texto, já refrescava também nossa memória:

 "... a maioria dos candidatos da direita (PSDB, DEM, PPS) e do bloco governista (PT, PcdoB, PMDB, etc.) tem suas campanhas  financiadas com dinheiro dos grandes empresários, latifundiários e banqueiros, e que esse dinheiro não é doado desinteressadamente. O funcionamento do regime democrático-burguês que impera em nosso país depende umbilicalmente dessa relação promíscua entre os políticos e os grandes empresários em que “uma mão lava a outra”, ou seja, uma grande empresa que financia um determinado candidato depois é “recompensada” pelo político eleito para governar a favor de seus interesses. É assim que o capitalismo convive com a democracia, porque se trata de uma democracia dos ricos". (Grifos nossos)

Mais claro do que isso, nem água mineral. Ou seja, há um fato concreto: Edmilson e o PSOL aceitaram doações de empresários. E há uma constatação histórica e científica: ""sem independência financeira não existe independência política".

A partir desses elementos, duas outras inferências podem ser feitas. Uma delas, menos provável, é que Edmilson e o PSOL irão rever sua posições e rumar ao encontro do que o PSTU defende. Outra, "mais realista", é que a Frente "Belém nas mãos do povo" permanecerá cada vez mais nas mãos dos empresários, o que poderá criar um sério problema politico para o próprio PSTU.

Se não nos falha a memória, é de Trotsky a máxima de que política é a arte de prever. Alguém aí corrija, se não for. Pois bem. Edmilson Rodrigues não é calouro em política ou eleições. Eleito já duas vezes para a prefeitura de Belém, ele sabe que no jogo de cartas marcadas dos processos eleitorais burgueses, quase sempre ganha não quem diz a verdade ou é "bem intencionado". Mas sim quem tem dinheiro. Muito dinheiro.

E Edmilson e o PSOL sabem também que ele, o seu partido e o PSTU ainda não conseguiram uma empatia suficiente com a população explorada para que se chegue a conquistar uma prefeitura como a de Belém apenas com os históricos de suas militâncias. Para que se tenha uma pequena ideia do peso econômico dessa cidade, é nela que está o 5º metro quadrado mais caro do país, segundo matéria de Eduardo Almeida, no site do PSTU.

Sob esses últimos aspectos, é importante não esquecer que nas duas vezes em que fora prefeito de Belém, Edmilson fez governos muito parecidos com os dos seus antecessores lacaios do capitalismo. Algumas pequenas reformas para o povo e aplicação da mesma política econômica de sempre: pagamento da dívida pública junto à União, isenções fiscais aos grandes empresários e, em consequência disso, repressão a greves de professores, arrocho salarial ao funcionalismo, sucateamento de postos de saúde e alguns outros etcéteras nessa mesma linha. 

Essas suas atuações à frente da prefeitura, é óbvio, dificultam seriamente suas pretensões de ganhar esse pleito logo em sua primeira fase. Não à toa, segundo pesquisas (emboras com manipulações), há forte tendência de o processo ir para o segundo turno, onde Edmilson disputaria com o candidato do PSDB ou o do PMDB.

Tal quadro, em particular quanto ao cenário de dificuldades que apresenta, leva o candidato do PSOL para onde? Para rejeitar o dinheiro dos empresários e partir para uma campanha sustentada só nas ideias e nos poucos recursos financeiros que a "Frente de Esquerda" pode angariar? Ou, indo pela velha pragmática, Edmilson seguirá caminho inverso e colocará a "Belém nas mão do Povo" de vez nas mãos dos grandes grupos econômicos?

Sinceramente, pelo próprio modo como essa Frente se constituiu, tudo levar a crer que as exigências do PSTU ecoarão só em sua própria militância e em todos os que rejeitam os oportunismos eleitorais de plantão. Edmilson e o PSOL2, desde o início, deixaram claro que entrariam para ganhar, não importando muito a que preço. Assim, chamaram vários partidos burgueses para a aliança. E têm como vice o PC do B, um dos principais aliados do governo Dilma e de todos os projetos que incentivaram inclusive a criação do próprio PSOL. Ao que nos parece, o PSTU cumpre nessa chapa apenas o papel de credenciá-la do ponto de vista da apresentação abstrata de algumas teses da esquerda. Não passa disso. A própria Nota que publica aponta que tomaram conhecimento das doações em dinheiro dos empresários através do site do TSE. Ora, se não são consultados num critério fundamental de uma eleição, que é o financiamento, estão lá para quê? Apenas para legitimar uma chapa de "esquerda pró burguesia" e eleger o nobre e aguerrido Cléber Rabelo a vereador? É algo no mínimo discutível.

Para quem segue o marxismo revolucionário, não se pode mentir aos trabalhadores, nem semear-lhes ilusões.  São princípios, sobretudo para quem se guia pelos ensinamentos de Lênin, Trotsky e Moreno, este último um importante referencial teórico mais particular do proprio PSTU.

No início do processo eleitoral, em Nota Pública, o PSTU justificou a participação nessa "Frente de Esquerda" a partir de duas alegações principais. A primeira é de que estaria com "as mãos desamarradas" para denunciar e/ou exigir que Edmilson e o PSOL fizessem uma campanha com base em um outro e caro principio para os revolucionários: a independência de classe. E a segunda, é que justamente com tal aliança teria chances concretas de eleger o operário Rabelo a vereador.

O PSTU agora denuncia e exige que Edmilson e o PSOL não aceitem dinheiro de empresários, de fato. Mas se Edmilson e o PSOL continuarem com tal política, que postura o PSTU adotará? Irá além das exigências e denúncias?

Como se sabe, a política de exigências e denúncias não é só um mero jogo de palavras que apenas terminam por se desmanchar no ar. Elas existem como um guia para a ação. Se  Edmilson e o PSOL não recuarem, o PSTU, para ser consequente com sua própria história, deve largar as exigências, partir só para as denúncias e romper com essa frente eleitoreira. Do contrário, equipara-se à postura do "primo rico", um hilário personagem do Chico Anysio, que brigava com seu "primo pobre" quando este não lhe conscientizava que passava necessidades. No entanto, quando o "primo pobre" falava, o "primo rico dizia: "Tudo bem, agora tô conscientizado". Mas nada de concreto fazia. O PSTU não pode se comportar como uma espécie de "primo rico" dos trabalhadores.

Assim, em vez de dizer: "Edmilson e o PSOL devem rever a decisão de aceitar dinheiro dos empresários" (titulo da Nota no site do PSTU), deve mudar o texto e propagar, sem rodeios: "Edmilson e o PSOL em Belém aceitam dinheiro dos empresários! Não servem para a maioria do povo!". Ou seja, o PSTU deveria romper com essa Frente.

Por mais duro e radical que isso possa parecer, pelo menos em nosso entendimento, é o caminho mais sensato a seguir.

Por outro lado, a viabilidade de eleger um vereador não pode, também em nosso entendimento", impor a um partido do porte do PSTU uma sujeição a esse tipo de aliança econômica e aventura que Edmilson e o PSOL ditam e põem em prática. A eleição de um parlamentar para um partido revolucionário, ninguém discute, é algo fundamental. Mas isso não pode ser tomado como um fim. Não pode ser conquistado a qualquer preço. É deseducativo para o próprio militante da ocasião, no caso aqui o operário Rabelo.

O PSTU precisa avaliar com muita serenidade essa situação. Se não o fizer, corre o sério risco de cometer o mesmo e grave erro que Edmilson e o PSOL cometem. Estes, pelo tipo de financiamento eleitoral suicida que aceitam. E o PSTU, por permanecer só nas meras exigências verbais e continuar numa "Frente de Esquerda" que certamente poderá levar o povo pobre de Belém mais uma vez  a um abismo.

Acesse a Nota do Pstu

1 Texto original: "Um fato grave, no entanto, ocorreu em relação à campanha da Frente “Belém nas Mãos do Povo”encabeçada pelo companheiro Edmilson Rodrigues (PSOL), na qual nós do PSTU estamos inseridos. Um total de R$ 389.405,57 já foram doados por empresas à campanha de Edmilson Rodrigues, candidato a prefeito de Belém". 

2 De forma extra oficla, temos informações de que nem todas as correntes do PSOL apoiaram a aliança com o PC do B.

*Landim Neto é ex-militante do PSTU

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