O Rock é sinônimo de contestação!

12/07/2011 22:25

Por Landim Neto, da Redação.

Treze de julho é o “Dia Mundial do Rock”.

          O rock não é um gênero musical que se possa definir com muita precisão. Relacionado a intimistas e suaves melodias, como “Tears in heaven”, de Eric Clapton, é também dele acordes incisivos, tipo os dezenas “escandalosamente” apresentados nos palcos por Mick Jagger ou Ozzi Osbourne. O rock caracteriza-se, assim, pelo profundo aspecto multifacetário que o tem marcado em mais de sessenta anos de existência.

          Na sisuda e moralista década de 1950, na Europa e EUA, por exemplo, tinha como tom o apelo à sexualidade. Nos anos 1960 dedicou-se em todo o mundo aos experimentalismos, sobretudo os lisérgicos. Na década seguinte, voltou-se mais para atitudes de protesto. De 1980 para cá, talvez o termo que melhor possa enquadrá-lo seja multiplicidade.

          Mas o rock, comportado ou não, tem algo que o distingue de forma muito particular dos demais gêneros musicais, independentemente de época. É o seu profundo caráter contestador. Em 1954, em meio ao conservadorismo e ao racismo exacerbado da sociedade norte-americana, surge um dos maiores ídolos do século XX, Elvis Presley. Vestido com roupas justas e maquiado com rímel, Elvis escandalizava e irritava os moralistas do seu país, ao se contorcer como os negros (“a música negra corria livre por suas raízes brancas”), dando realce aos movimentos sensuais dos quadris. A juventude logo se identificou com o “Rei do Rock”, cansada da monotonia expressa nas melancólicas canções de Frank Sinatra.

         Outro ícone do rock and roll, Robert Allen Zimmerman, o Bob Dylan, quase sempre utilizou também sua música como um elemento de contestação. Em 1976 lançou o ótimo álbum “Desire”, que contém a quilométrica “Hurricane”, (furacão), em defesa do pugilista negro norte-americano Rubin Carter, acusado injustamente de cometer um assassinato. É ainda de Dylan a lendária “Blow in the Wind”, em que pergunta: “Sim, e quantos anos podem algumas pessoas existir, até que sejam permitidas a serem livres?”.

         Pink Floyd, uma das mais sugestivas bandas de rock de todos os tempos, não ficou atrás. Em 1979 lançou o álbum "The Wall", famoso pela composição "Another brick in the wall", dividida em três partes. Nela critica o rígido sistema educacional inglês centrado em internatos: "Não precisamos de nenhuma educação. Não precisamos de controle mental. Chega de humor negro na sala de aula. Ei! Professores! Deixem essas crianças em paz!".

         No final dos anos 1960, quando a economia norte-americana estagnou e o país se viu em um abismo na guerra do Vietnam, surge um dos movimentos mais contestadores nesse terreno musical: o punk rock. Tendo como expressões maiores as bandas Ramones, The Clash e Sex Pistols, essa subcorrente do Rock denunciava e combatia de forma ensurdecedora e em músicas muito curtas todo tipo de fascismo, autoritarismo e racismo, oriundos da sociedade capitalista em declínio de então.

         A banda Beatles (um dos maiores fenômenos comerciais na música de todos os tempos), vista pela sociedade inglesa como “bem comportada”, também dedicou parte do seu ótimo e alinhado repertório a temas que iam muito além do romantismo juvenil. Em junho de 1967 lançou o famoso álbum Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band, trabalho que refletia os sentimentos libertários predominantes na época, em particular quanto à prática do sexo livre e dos movimentos feminista, negro e homossexual. Foi a partir desse disco que John Lennon deu às suas produções futuras uma feição mais política.

        O Brasil é também palco de grandes figuras que souberam, como seus coirmãos estrangeiros, utilizar o velho rock and roll para chacoalhar o senso comum.   Citamos dois. Dentre inúmeras outras grandes composições, é de autoria de  Rita Lee e do guitarrista Roberto de Carvalho a bela “Nem luxo nem lixo”, em que expõem: “Quero saúde pra gozar no final”, fazendo corar muitos católicos ortodoxos e algumas vovozinhas mais conservadoras. E, como um dos símbolos do rock nacional, há a figura do polêmico Raul Seixas. Associado ao uso exagerado de drogas e outras extravagâncias, Raul disparou: "O diabo é o pai do Rock", escandalizando os cristãos. O rock tem origem no gospel.

        O Dia Mundial do Rock não deixa de ser também utilizado para fins comerciais. Muitas indústrias aproveitam para lucrar com a venda de vários produtos. Mas nasceu com outra conotação. Em 13 de julho de 1985, o vocalista da banda Boomtown Rats, Bob Geldof, organizou dois grandes shows. Um em Londres e outro na Filadélfia, EUA. Contaram com a presença de várias personalidades, como Paul McCartney, Black Sabbath, Elton John, The Who, Led Zeppelin, Duran Duran, Eric Clapton e Bob Dylan, dentre outros. O objetivo maior era arrecadar fundos para tentar minimizar a fome e a miséria na África. Embora não tenha se configurado como uma saída duradoura, o Evento – batizado de “Live Aid” – serviu para denunciar uma das misérias do capitalismo, que é a existência de milhões de famintos em todo o planeta, enquanto a produção mundial de alimentos, já naquele ano, era bem superior às necessidades humanas. O rock é sinônimo de contestação.

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