Depressão

02/02/2011 01:06

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 1981 apud Machado, 1993), um em cada dois professores participantes de uma pesquisa da Universidade de Munique estava exposto ao risco de sofrer um ataque cardíaco; entre docentes da Hungria constatou-se maior prevalência de distúrbios advindos do estresse, labirintite, faringite, neuroses e doenças dos aparelhos  locomotor e circulatório em docentes; entre educadores franceses, segundo dados oficiais, 60% das solicitações de licença por motivo de doença relacionavam-se a distúrbios nervosos. Além disso, verificou-se, entre pessoas hospitalizadas por doenças mentais, maior incidência de neuroses com depressão entre os professores do que em outras categorias profissionais. Na Inglaterra, um estudo realizado em 1978, indicou que 25% dos professores não acreditavam na própria permanência na profissão pelos próximos dez anos, e 20% a 30% deles classificaram-na como causadora de estresse.

Nos Estados Unidos, De Frank & Stroup (1989) estudaram professores de escolas elementares para avaliar a relação entre fatores pessoais, estresse, insatisfação no trabalho e problemas de saúde. Dos indivíduos estudados 96% eram mulheres, 76% casadas, com média de idade de 39, 4 (±9,2) anos e ensinando, em média, 12,1 (±6.9) anos. De acordo com o instrumento de avaliação de estresse usado , os itens mais freqüentemente relatados foram sobrecarga laboral e problemas com os alunos (referidos como "tentativas contínuas de motivar estudantes que não desejam aprender").

Os problemas de saúde mais freqüentes foram: perda de energia, impaciência, dores de cabeça, hiperalimentação, aumento da irritabilidade e dores na coluna. Em sessão aberta do questionário, os professores estabeleceram como principais fatores de estresse: avaliações, tempo insuficiente para as tarefas estabelecidas, preocupações diárias (trabalho de casa, currículos, reuniões), responsabilidades extracurriculares, problemas com os pais que não se preocupavam com a vida escolar do aluno e falta de tempo para estar com a família. Fatores demográficos e experiência de ensino não influenciaram estresse. Estresse apareceu como um forte preditor de insatisfação e esta mostrou-se fortemente associada aos problemas de saúde.

Um outro grupo de estudos avaliou questões relativas aos problemas vocais entre os professores. Sapir et al. (1993) realizou um inquérito em professoras escolares, de várias localidades dos Estados Unidos, para avaliar problemas de voz. Segundo os dados encontrados, as professoras apresentaram um número médio de 3,8 sintomas de desgaste ou atrito vocal. Mais da metade relatou múltiplos sintomas. Um número significativo, especialmente de professoras com múltiplos sintomas, relatou que os sintomas afetavam negativamente seu desempenho nas atividades de ensino e que a voz era uma fonte permanente de estresse e frustação.

Smith et al.. (1997) compararam a freqüência de sintomas de voz entre um grupo de professores e um grupo de indivíduos de outras ocupações. Os professores relataram ter mais problemas de voz (15%) do que os não professores (6%). Vinte por cento dos professores e nenhum indivíduo do grupo de comparação tinham perdido algum dia de trabalho em conseqüência de problemas de voz. A partir dos achados encontrados, o autor conclui que ensinar é uma ocupação que envolve um risco mais elevado para desordens da voz. Estas desordens, por sua vez, trazem implicações negativas tanto no que se refere às condições financeiras do docente, quanto ao seu desempenho profissional. Gotaas & Starr (1993) interpretaram os resultados do seu estudo como indicativos de que as características vocais dos professores que apresentaram fatiga vocal são similares às dos que não apresentaram nos dias em que os primeiros não tiveram fatiga.
Encontraram também que os dois grupos eram similares com relação a quantidade e altura dos seus tempos de fala, no trabalho e em casa. Entretanto, professores com fatiga vocal tendem a despender mais tempo em atividades que parecem ser mais demandantes da voz e estão mais propensos a perceber situações produtoras de ansiedade. Professores que fatigam a voz tendem a estar em boa saúde, mas têm tido mais problemas auditivos e alergias do que os demais colegas, e outros membros de sua família têm tido também problemas com a voz.

No Brasil, as referências de estudos abordando as condições de saúde e trabalho do professorado são ainda escassas e, apenas na segunda metade da década de 90, foram produzidas algumas investigações, abordando as condições de saúde e trabalho da escola pública. As evidências encontradas nesses estudos são preocupantes e apontam a necessidade de medidas imediatas. A investigação de Codo et al. (1998) sobre a saúde mental dos professores de 1o e 2o graus em todo o país, abrangendo 1440 escolas e 30.000 professores, revelou que 26% dos professores da amostra estudada apresentavam exaustão emocional (cerca de 1 professor a cada quatro estudados). Essa proporção variou de 17% em Minas Gerais e Ceará a 39% no Rio Grande do Sul. A desvalorização profissional, baixa auto-estima e ausência de resultados percebidos no trabalho desenvolvido foram fatores importantes para o quadro encontrado.

Ruiz et al. (1995), investigaram a demanda de professores de 1o e 2o graus da rede pública de Sorocaba, São Paulo, num ambulatório especializado em saúde ocupacional. A demanda por atendimento foi periódica nos semestres: no começo do ano era pequena, nos meses seguintes aumentava, no início do 2o semestre voltava a diminuir e, novamente, aumentava no final do ano.
Durante as férias, a demanda registrada era mínima. Segundo os autores, esse comportamento da demanda favorece a hipótese de que a procura do cuidado médico e, conseqüente afastamento do trabalho, aumentava no decorrer do período letivo, revelando um desgaste crescente dos professores. Dentre as doenças mais freqüentes encontraram a laringite, que representou 39,8% dos diagnósticos realizados, seguida pela asma ocupacional (15,3%), alergia ocupacional (6,8%) e lesões lesões por esforços repetitivos (LER).

Carvalho (1995), estudando professoras primárias na cidade de Belém, encontrou níveis mais elevados de suspeição de sintomas psíquicos (de acordo com o instrumento de detecção utilizado: o MMPI), em escolas onde se relatou um relacionamento menos democrático com a direção, do que naquelas onde predominavam relações mais democráticas.

Em Salvador, Bahia, o CESAT (Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador), órgão da Secretaria de Saúde do Estado, em um estudo da demanda do Ambulatório no período de 1991 a 1995, registrou o atendimento de 76 docentes. Das pessoas atendidas, 93,4% eram mulheres, com faixa de idade predominante entre 40 a 49 anos. Após avaliação, 46 educadores (60.5%) foram diagnosticados como portadores de doenças ocupacionais. As doenças encontradas foram: calos nas cordas vocais, 41.3% dos casos, rinosinusite, 34.8% dos casos, asma, 13.0%, Lesões por Esforços Repetitivos, 6.5%, dermatose, 2.2% e varizes, 2.2% (CESAT, 1997).

Os dados revisados revelam um conjunto de repercussões nocivas do trabalho na saúde dos professores, ainda que a visibilidade dessas repercussões não seja tão evidente como em outras categorias profissionais.

Fonte: https://www.sinpro-ba.org.br/saude/relacoes_trabalho.htm

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