Até o Leblon quer Dilma à esquerda

29/10/2014 15:31

Da Redação

Moradores do Leblon, Rio, estão muito chateados com a reeleição da presidente Dilma. Ameaçam até deixar o país se ela não sofrer impeachment. É um chororô sem fim. Ana Silvia Castignani Alves da Silva, por exemplo, declara na Folha de São Paulo que o custo de vida da classe média alta brasileira está muito elevado, culpa do PT. E fala também das dificuldades óbvias de morar de aluguel no Bairro cujo metro quadrado é o mais caro do país. Ana, que é gerente de vendas, disse ainda que paga R$ 2 mil de colégio para o filho e que na Europa ele teria saúde e educação de graça, evidentemente bancado pelos impostos arrecadados pelo poder público.

Pois bem. Se até no Leblon os milionários reclamam do poder de compra de suas rendas, o que dizer então de quem vive do salário mínimo nacional? Segundo o Dieese, nos doze anos de governo do PT não houve um mês sequer em que o salário mínimo fosse pago com base nos índices reais do custo de vida e de acordo com o que reza a Constituição Federal. Para esse instituto, o valor de setembro último deveria ter sido R$ 2.862,73. Ou seja, quase o quádruplo dos  R$ 724,00 em vigor, que por essa lógica dão apenas para uma semana de um mês que tem sempre quatro.

E quanto à moradia, é barato morar nas periferias pobres do país, que em matéria de infraestrutura básica nem de longe lembram o requintado Leblon?  Também não é. Quem mora nessas periferias é desempregado, subempregado ou vive desse salário mínimo nacional combalido. Se ainda tiver que pagar aluguel, está frito. E não é pouca gente. Dados do próprio governo apontam que há déficit de 6,5 milhões de moradias no país, a maior parte inclusive no Sudeste (onde se localiza o Leblon), e Nordeste.

E as reclamações da moradora do Leblon relativas à educação? São pertinentes, sim, independentemente de se hoje ela quer e pode pagar R$ 2 mil na rede privada de ponta para o filho ou não. O fato é que a Educação Básica pública continua ruim. As escolas são quebradas, sem estutrura. Os professores que não abandonam a carreira se veem obrigados a cumprir jornada estafante, de três turnos, para melhorar suas rendas. A ampla maioria adoece e se submete a isso inclusive para também poder colocar seus filhos na rede particular (ainda que não a de ponta), pois conhecem as enormes deficiências das escolas públicas onde lecionam.

O mesmo vale em relação à saúde, também lembrada pela gerente de vendas. Que operário ou trabalhador alçado a algum posto minimamente elevado no governo petista tem coragem de procurar a rede pública para se tratar? Nenhum. Como os ricos do Leblon, também só confiam na rede privada, até porque algum dia já sofreram na pele o que é enfrentar uma fila de espera nos corredores de um hospital público.

Ironias à parte, os ricos do Leblon, embora sem saber ou querer, alertam a presidente Dilma para que và à esquerda. Ou seja, que pare de pagar a agiotagem da dívida pública (um trilhão e trinta e cinco bilhões de reais previstos para 2015), e invista esse dinheiro para elevar o valor do salário mínimo, acabar com a especulação imobiliária e superar de vez o déficit habitacional, e estatizar sob controle dos trabalhadores a saúde e educação, pondo fim ao setor privado nessas áreas. Sem isso, não é de duvidar que os ricos descontentes do Leblon consigam influenciar milhões de pobres que votaram em Aécio, a ampla maioria de trabalhadores, e acabem por conseguir o impeachment do novo governo dos petistas.

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