Quem se ilude com o Joaquim Barbosa?

02/12/2012 19:10

Há, sobretudo nas redes sociais, uma espécie de "febre" em torno do ministro Joaquim Barbosa. Muitas pessoas honestas até já lançam seu nome para a presidência da república. Mas o atual ministro do STF é mesmo solução para os graves problemas sociais do Brasil?

Por Landim Neto, da coordenação do Dever de Classe

"Meu herói é negro e usa capa preta", eis alguns dos muitos qualificativos atribuídos a Joaquim Barbosa, atual presidente do STF. De forma mais direta, outros anunciam: "Joaquim Barbosa para presidente do Brasil". Virou uma espécie de "febre" nas redes sociais, em particular no facebook.

Tais campanhas, temos observado, vêm principalmente de pessoas simples e honestas, como professores, estudantes, funcionários públicos e pequenos profissionais liberais. Até simpatizantes de partidos de esquerda, como o Psol e, acreditem, PCO, aqui e acolá, louvam o já "mítico e salvacionista" Barbosa. Mas por que tanto romantismo em torno do ministro?

A imagem do atual presidente do STF, em particular nos últimos meses, tem se construído para se confundir com a figura de um super herói. Ou seja, alguém que, sozinho, é capaz de impor justiça social e dignidade ao povo. O pano de fundo disso tudo é a novela "mensalão", onde Barbosa, com uma "mãozinha" da grande mídia do país, se apresentou como o "único capaz de mandar prender um malfeitor da periculosidade" de José Dirceu. "Nunca isso tinha ocorrido", euforicamente muitos alardeiam.

A partir daí, tal como nas ações que envolvem os batmans da vida (aliás, da ficção), tudo é super dimensionado. "Barbosa tem que ser presidente porque é de origem pobre". "Barbosa tem que ser presidente porque é negro". "Barbosa tem que ser presidente porque enfrenta os poderosos", enfim.

Sem querer mexer com os sonhos (ou serão devaneios?) de ninguém, é preciso revisitar alguns recentes episódios da história para, até de forma fácil, compreender como Joaquim Barbosa, no máximo, não passa de mais um que pode estar a ser treinado para defender, com uma espada maior, o capitalismo e as desigualdades que esse sistema traz.

Em primeiro lugar, é preciso responder: quem é Joaquim Barbosa hoje? Certamente, até os mais entusiasmados com o ministro não irão dizer que Barbosa é uma pessoa simples, que reflete a vida do povo. Não. O ministro, apesar de sua origem pobre, há tempos não sabe o que é tomar um ônibus, comer uma quentinha ou viver do salário mínimo nacional. Muito pelo contrário. Barbosa tem uma altíssima remuneração e incontáveis mordomias, coisas que os cidadãos comuns estão longe, muito longe, de sequer imaginar as dimensões.

Assim, apenas a origem pobre do ministro jamais faria com que ele, acaso chegasse à presidência da república, buscasse de fato resolver os graves problemas do povo. Barbosa não vivencia mais, na própria pele, a miséria. E, como ser humano que é, o natural é que sua consciência e suas ações sejam determinadas pelas condições materiais que hoje têm, isto é, de uma pessoa, por assim dizer, rica, longe da maioria da população e dos problemas que ela vive.

Lula pode ser citado como exemplo. Ex-retirante pobre nordestino, ao assumir a presidência do país, o que fez? Criou um programa de quase esmola para os mais humildes e aliou-se a banqueiros e figuras como Sarney e os próprios agentes do mensalão. Hitler é outro. Segundo apontam historiadores, veio também de baixo. Era filho de um funcionário de alfândega. Alçado ao poder, que exemplos ele deu para a humanidade?

"Mas Barbosa tem a vantagem de ser negro", alegam de forma até pueril centenas de seus defensores. De fato, seria ótimo para um país onde o racismo é ainda muito forte ter um presidente negro. Mas isso não resolveria muita coisa. Apenas a cor da pele, por si só, também não determina o que uma pessoa pode ser ou fazer. Se assim o fosse, o próprio Barbosa já teria denunciado de forma consequente o roubo legalizado que é a política econômica do país, onde o Orçamento Público é direcionado para atender prioritamente os privilégios de uns poucos, incluindo os dele mesmo.

Cite-se nessa questão mais dois fatos. O ex-presidente de Uganda, Idi Amin Dada, era negro. Isto não o impediu de comandar um regime ditatorial cruel, onde a perseguição étnica e as violações aos direitos humanos eram rotina. Seu governo foi responsável inclusive pela morte de milhares de negros, apontam vários estudiosos. E o que dizer de Obama, além de que também é negro? Apesar do seu enorme carisma e conversa, o presidente dos EUA é o atual responsável maior e comandante de uma política econômica mundial que leva à opressão e guerras, que reflete regativamente até na qualidade de vida da própria classe trabalhadora norteamericana. Essa política impulsiona também a fome na África (de maioria negra) e em muitas outras regiões do planeta.

"E os poderosos, que só Barbosa pode enfrentar?" , perguntam outros tantos. Neste caso, basta a gente voltar alguns poucos anos e relembrar de Fernando Collor de Melo, "o caçador de marajás". O que ele fez? Confiscou a poupança do povo. Pois é, de tempos em tempos, os chamados burgueses constroem figuras que, ilusoriamente, levam o povo a crer que combaterão os privilégios dos próprios burgueses. Aqui dá até para sorrir...

Todas essas questões não inviabilizam, no entanto, que Barbosa venha a ser o candidato a presidente da república que muitos estão a sonhar. O ministro pode, sim, se viabilizar. Para isso, em nossa opinião, basta que busque logo um partido de esquerda consequente, sem ligações com governos e/ou patrões. Se algum o aceitar, o desejo de muitos pode virar realidade, pois aí o próprio atual mito teria a chance de aprender que não há saída coletiva a partir de ações individuais. Com isso, Barbosa poderia até não ganhar as eleições, algo a lamentar, não restam dúvidas. Mas essa história de "herói da capa preta" ficaria novamente restrita ao lúdico e encantador mundo da ficção. Pelo menos por algum tempinho, até que a mídia burguesa criasse outro.

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