Pra não dizer que não falei das pedras, e nem de Chico Caruso

11/03/2015 18:16
Por Ana Paula Romão, Educadora

A relação da humanidade com as pedras possui uma intensa historicidade. Para muitos historiadores, a divisão da história em fases históricas já poderia ter sido ressignificada, em especial a nomeada ‘pré-história’. Uma vez que esta poderia muito bem ser renomeada de ‘história da ancestralidade’. Ora, o que se convencionou separar a história da pré-história foi o advento da escrita. No entanto, as inscrições rupestres (da pré-história) foram um tipo de escrita em pedras e os primeiros escritos foram símbolos grafados em pedaços de pedras em forma de cunhas (escrita cuneiforme). O que foi então a passagem da pré-história ou história da ancestralidade para a história? Um conjunto de transformações sociais: técnicas aperfeiçoadas de sobrevivência, aperfeiçoamento de artefatos, o aparecimento do estado, da família patriarcal e da propriedade privada. E evidente, o registro escrito de tais ações humanas. Mas, uns aspectos, podem considerar: o registro escrito mudou-se em relação ao tipo de pedra, de grandes e pesadas, para menores e móveis, mas não as excluíram desta relação. Assim, o armazenamento das ‘pedras livros’ possibilitaram as primeiras fontes fixas até a massificação do papiro. O período da chamada ‘pré-história’ em suas duas grandes fases iniciais consolidou a força das pedras no cotidiano social. A representação das pedras diz muito sobre a cultura humana: lascada ou polida! Morar sob e sobre pedras, afugentar animais ferozes arremessando pedras, caçar utilizando pedras, fabricar utensílios, armas e uma infinidade de objetos polindo as pedras. Sobreviver só foi possível com as pedras! Desde cedo, que a pedra passou a ter funções de proteção, mas igualmente de ataque, no imaginário coletivo. O processo de punição através de apedrejamento e por circunstâncias diferenciadas tornou-se voga, entre os humanos. Em termos de sujeitos sociais, os escravos e mulheres foram os mais apedrejados e tal prática tornara-se gradativamente de um episódio isolado para espetáculos em praças públicas. No caso das mulheres, ainda na atualidade muitas ainda são apedrejadas, principalmente, quando acusadas de adultério! Seja pelo apedrejamento real e ou simbólico. Interessante, que quando as mulheres nos últimos séculos reivindicaram quaisquer que sejam direitos já exercidos pelo homem: votar, autonomia do seu corpo, mercado de trabalho, entre outros, foram e são avidamente reprimidas pelo chamado ‘apedrejamento moral’. As feministas são consideradas verdadeiras ‘loucas de pedras’. Mas, não existe nenhum registro que a prática de ‘jogar pedras’ tenham sido utilizadas por movimentos de mulheres em protestos ou algo do tipo. Uma pedra sem volta, uma das maiores preocupações, à dependência de um tipo específico de pedra. O Crack. Criadas em laboratórios com a sobra da cocaína que a elite consome (encontradas vez ou outra em helicópteros de políticos, ‘sem donos’) são as pedras malditas ou pedras da morte. Que apesar de atingir diferentes classes sociais, faixas etárias, gênero ou etnia tem atingido principalmente à juventude. Os jovens negros e pardos são em sua maioria os principais dependentes. Herdeiros do processo escravocrata. Vítimas de preconceitos e do racismo nosso de cada dia. Nossas crianças negras não sabem que são negras. Começam a desconfiar disso, na adolescência pelo olhar preconceituoso que as afastam do círculo de amizades, da escola e consequentemente do mercado de trabalho. Ora, trata-se de um segmento alvo para que essas pedras os atinjam! Quem sofre violência doméstica vai pra rua, quem é afugentado ou segregado na escola vai para a rua, quem não consegue trabalho vai para rua. A pedra rola na rua. Os excluídos socialmente são o alvo principal da pedra do crack. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad experimentou o primeiro programa de recuperação de pessoas dependentes da pedra. Trata-se de um programa de inclusão social (renda mínima) associado ao tratamento de desintoxicação causado pela dependência química. Uma ‘pedrada’ na exclusão social. E várias pedras contra Haddad. Aliás, seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), não é de hoje que recebe pedrada dos outros partidos de direita e de partidos menores da esquerda. Muitos atiram, com o propósito de atingir as políticas sociais voltadas para os excluídos. Outros, com o intuito de enfraquecê-lo eleitoralmente. Já que está governando o país é ser vitrine. Existiria melhor alvo para os atiradores de plantão? O PT tem sido mira do maior apedrejamento da história política do país, alvejado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O STF não poupou pedras contra o PT, mas esconderam provas que inocentariam algumas lideranças petistas e processos similares a outros acusados do mesmo crime (corrupção) de outros partidos, ninguém sabe onde. Provavelmente embaixo de pedras pesadas, fornecidas pelos grandes monopólios econômicos. Aos poucos, o que vai saindo de baixo das pedras foram os desmandos e práticas ilícitas do próprio STF. E, alguém outro dia perguntava ao ex-presidente do STF: se tinha tanto pecado porque atirou a primeira pedra? Não surpreende que os principais veículos de comunicação antipetistas trataram de manipular informações e organizarem verdadeiras catapultas para atirarem suas pedras no Governo Dilma. Muitos dos problemas nem poderiam ser resolvidos pela competência federal. Algo, como se a culpa por todos os problemas estruturais e históricos do Brasil fossem sua. Todavia, para o desespero da direita e de outros tipos de antipetistas, a Geni apedrejada está blindada, quanto mais batem e mais atiram pedras, maior tem sido sua aprovação popular diagnosticada nas pesquisas verdadeiras. Muitas gerações antes da minha lutaram e deram suas vidas pela volta à democracia e contra os regimes totalitários. Fiz parte de uma geração que já pode exercer o direito de reivindicar direitos. No final da década de 1980 ( em João Pessoa-PB) lutamos por transporte público gratuito e de qualidade (entre tantas outras lutas) e por um curto período conseguimos viabilizá-lo. Mais essa conquista só foi possível pela organização e luta dos estudantes em formas de passeatas e teatro popular. Ainda assim, enfrentamos muito policiamento e perseguições de ordens diversas. Tenho muito viva em minha memória, após uma passeata, o dia em que fomos acusados pela mídia local e até nacional de atirarmos uma pedra em um ônibus de linha comum, e atingido passageiros. Sabíamos com certeza que não havia sido nenhum jovem ou outro militante vinculado a partido político de esquerda. Sentimos na pele o processo de criminalização do movimento. Um comerciante foi quem atirou a pedra. Existe uma pedra no meio do caminho das elites, no meio do caminho tem uma pedra! O PT. O apedrejamento de lideranças históricas do PT, com condenações injustas no Supremo, simbolicamente serviu também para desqualificar ações e programas do partido em consonância com as causas dos excluídos. É um processo de fazer sangrar o PT, organizado pelas Elites, que tem o controle da mídia suja. Nesse sentido, a presidente Dilma é visualizada pelos setores conservadores como uma perfeita Geni. Boa de cuspir, ótima para se jogar pedras. Afinal, além de petista é mulher! Com uma experiente capacidade administrativa já demonstrada, desde o Governo Lula, deu continuidade a grandes ações e projetos de inclusão: Bolsa Família, Minha Casa, minha Vida, Luz para Todos, FUNDEB, expansão das escolas técnicas e universidades (REUNI), ProUni, PRONERA, Pronaf Mulher, inovação de outros programas, como o recente Mais Médicos, Brasil sem Miséria, Brasil Carinhoso, Brasil sem Fronteiras, expansão do Pronatec, entre outros. É isso que Chico Caruso entende pelo avesso, e se inscreve como o continuador moderno das milícias machistas e preconceituosas, que cotidianamente apedrejam as mulheres. Agora a presidenta Dilma, com a faca no pescoço, provavelmente a mando do patrão. Começa a jogar no lixo a sua história, desrespeita inclusive os seus fãs. Mais a história serve para tirarmos lições e quem sabe a grafitarmos em alguma grande pedra, os trabalhadores do campo e da cidade, que efetivamente produzem a riqueza do pais. Visível a tod@s!

Envie e-mail

by FeedBurner