Partidos, parlamentos e confiança social

16/10/2011 10:53

 

Homero de Oliveira Costa , prof. Ciência política da UFRN

                       Parece não haver dúvida de que os parlamentos e os partidos políticos são  importantes numa democracia representativa. No entanto, diversas pesquisas têm demonstrado um baixo nível de confiança nessas instituições.

                      O jornalista britânico Brian Whitaker no artigo “Desconfiança nos políticos é mundial” (O Estado de S.Paulo, 18/09/2005) comenta uma pesquisa financiada pelo Serviço Mundial da rede BBC de Londres, feita em 2005, que entrevistou mais de 50 mil pessoas em 68 países “representando assim a visão de cerca de 1,3 bilhões de pessoas ao redor do mundo”, constatando um nível muito baixo de confiança nos partidos e nos políticos.

                    A pesquisa mostrou, entre outros dados importantes, que apenas 13% das pessoas confiam nos políticos e 53% não acreditam que as eleições em seus países sejam livres e justas.

                    No dia 02 de outubro de 2011, foi divulgada mais uma pesquisa  do Ibope (Ibope Inteligência)[1] realizada entre os meses de junho e setembro de 2011. Trata-se da pesquisa sobre o Índice de Confiança Social. Ela é feita anualmente pelo instituto desde 2009 e em 2011 foram entrevistadas 5.124 pessoas em quatro países: Brasil, Porto Rico, Argentina e Chile (incluído em 2011). São 18 organizações avaliadas, numa escala de zero a cem. O resultado da pesquisa revelou que, comparado aos anos anteriores, a população brasileira está menos confiante na educação, no governo de seus municípios, nos serviços públicos de saúde (em 2009 era de 49 pontos, em 2010, 47 e em 2011,41) e nos meios de comunicação (que apresentou maior queda, de 71 pontos em 2009, diminuiu para 67 em 2010 e 55 em 2011).  

                    A família aparece em 1º. lugar (90), seguida dos amigos (68), igrejas e Forças Armadas (72).

                    Quanto às instituições a de maior índice de confiança, nos quatro países e pela 3ª. vez consecutiva foi a do Corpo de Bombeiros. Nos casos do Brasil e Porto Rico, seguida da Igreja, enquanto na Argentina e Chile, a igreja fica abaixo dos sindicatos (Chile),  presidente, eleições/sistemas eleitorais, organizações civis, sistema público de saúde, escolas públicas, meios de comunicação e até de bancos.

                     Na Argentina o corpo de bombeiros foi seguido pela escola pública (a Argentina foi o único país a registrar aumento de confiança em todas as instituições) e em último lugar, os sindicatos, seguido dos partidos. Nos demais, e nos casos do Brasil e Porto Rico, desde 2009, o Congresso Nacional e os partidos políticos obtiveram as piores avaliações,  sendo que, de todos os países, o Chile apresenta o índice mais baixo de confiança: apenas 17 pontos ( O Brasil, 28, o mais baixo desde 2009).

                      Há muitas possibilidades de análises dos resultados da pesquisa do Ibope, mas restrinjo às instituições consideradas menos confiáveis: O Congresso Nacional e os partidos políticos. Diversas pesquisas revelam que não se restringem ao Brasil e aos países pesquisados, além da pesquisa citada por Brian Whitaker, foram constatadas também em outros países da América Latina pelo Instituto Latinobarômetro (No relatório de 2009, constata-se que a confiança nos partidos políticos diminui à medida que passam os anos, independente das pessoas considerarem como importantes para a democracia. O Brasil, nesse quesito, ficou à frente apenas da Guatemala, Colômbia e Equador) e na Europa pelo Instituto Eurobarômetro, que tem revelado, ao longo dos anos e pesquisas, que os europeus demonstram confiarem muito pouco nos parlamentos nacionais, nos governos, nos partidos políticos e no sistema de justiça. Porém, é de longe nos partidos políticos que os níveis de confiança são mais baixos.

                     Uma análise possível pode ser feita em relação ao papel dos meios de comunicação. Embora haja justificáveis motivos para o descrédito dos partidos e do congresso,  não há imparcialidade nas matérias, que sejam livres de valores e posições político-ideológicas (os exemplos são muitos e talvez o caso da revista Veja em relação ao governo Lula seja emblemática nesse sentido). Analisando a crise de confiança na política e suas instituições e o papel dos meios de comunicação, Mauro Pereira Porto (“a crise do confiança na política e suas instituições: os meios de comunicação e a legitimidade da democracia no Brasil”), se de um lado a imagem impopular e negativa do congresso se explica a partir do desempenho medíocre de seus membros, há uma faceta claramente anti-política dos meios de comunicação. Para o autor se o jornalismo cumpre um papel relevante na cobertura e denúncias da corrupção e das irregularidades do Estado, apresentando-se como uma imprensa “autônoma” e “fiscalizadora”, ao mesmo tempo tem contribuído para criar uma imagem pública negativa do regime democrático e, claro de suas instituições, entre elas, o Congresso e os partidos políticos. Isso não significa afirmar que o desgaste e a descrença da opinião pública em relação às instituições – como constatados pelas pesquisas - sejam fruto da imprensa, mas a cobertura “enviesada”, que salienta apenas os aspectos negativos (escândalos etc.) certamente contribui para a diminuição da confiança social nestas instituições.



[1] O Grupo Ibope, como informa seu site, é composto pelo que chama de “três grandes negócios”: Ibope Media, Ibope Inteligência e Ibope Educação. O Ibope inteligência, criado em 2009, “atua em estudos de mercado, comportamento, marca, opinião e ainda internet”.

 

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