Aposentadorias de professores públicos devem ser congeladas, propõe empresário tucano a Levy

11/12/2014 15:59
Da Redação

Apareceu mais um inimigo explícito dos professores. E perigoso, pois tem por trás de si fortes grupos econômicos que impuseram o banqueiro Joaquim Levy como futuro ministro da Fazenda e ligação oficial com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Em artigo no Estadão (11.12.2014), intitulado "Carta ao ministro Joaquim Levy", o tucano João Batista Araújo Oliveira, presidente de um tal "Instituto Alfa e Beto" e ex-Secretário Executivo do Mec na era FHC, faz uma série de rodeios retóricos para dizer a Levy que "o bom senso sugere enfrentar logo as aposentadorias", sob a alegação de que a conta por onde professores públicos aposentados são pagos já é muito alta. Nesse mesmo artigo, condena ainda "o excesso" de disciplinas escolares, dentre outros ataques contra os docentes e a educação pública e gratuita. 

Veja o que diz explícita e implicitamente esse senhor:

... qualquer aumento dos ativos passa para os inativos, portanto, se não se desvincular uma coisa da outra, aumentos dos salários dos professores da ativa pioram a conta, pois inativos se aposentam no topo da carreira". (grifos nossos)
Observe-se que além de sugerir que aumentos de ativos não passem para aposentados (para "a conta não piorar"), esse senhor dá também uma outra ideia ao novo ministro, ainda que de forma implícita, dissimulada. No caso de ficar difícil aplicar congelamento de aposentadorias de professores, outra saída, é o que está nas entrelinhas, seria impedir que os docentes se aposentem no topo da carreira. Com isso, os aposentados iriam para casa com ganhos menores. Assim, eventuais percentuais de aumentos que recebessem, mesmo que iguais aos dos educadores da ativa, "não piorariam" tanto a conta, pois o ganho real (valor em dinheiro) do aposentado ficaria sempre menor que o do pessoal em atividade. Para entender melhor: se um professor, no topo da carreira, se aposenta com R$ 2.500,00, qualquer índice (10%, por exemplo) de correção dado ao pessoal da ativa incide também sobre esses R$ 2.500,00, o que corresponderia a R$ 250,00 brutos de acréscimo para todos, ativos e aposentados. Isto é o que garante o princípio da paridade entre esses dois grupos. Porém, se ao se aposentar esse mesmo professor sai do topo da carreira (e cai por exemplo de R$ 2.500,00 para R$ 2.000,00), os mesmos 10% resultariam em apenas R$ 200,00 de elevação, ou seja, perda de R$ 50,00.
 
E continua:
... estamos diante de redução demográfica: como professores trabalham menos tempo, em breve a folha dos inativos vai superar a dos ativos". (Grifo nosso)

Aqui ele sugere, também de forma sutil, que o governo eleve a idade mínima para aposentadorias de professores, já que estes hoje, como diz, "trabalham menos tempo" e em breve "a folha dos inativos vai superar a dos ativos", o que, na sua opinião, só "vai piorar ainda mais a conta da folha dos aposentados".

O artigo desse senhor alertou ainda o novo ministro da Fazenda de que há "ineficiências associadas ao "execesso" de disciplinas escolares.  Ou seja, quer que Levy corte matérias, algo que a presidente Dilma inclusive falou também na última campanha eleitoral, ao defender a exclusão de Filosofia e Sociologia do Ensino Médio. João Batista critica também o "açodado programa de construção de creches" e os "presentes de grego", como a compra de ônibus escolares. Sem comentários.

Por fim, dentre outras ideias que só contemplam os adeptos da educação privada que esse senhor representa, (trataremos disso em outra matéria), há também nessa carta ao ministro a afirmação de que o ensino superior gratuíto é um tabu. Como tabu, conceitualmente, é algo que pessoas inteligentes devem quebrar, pois é baseado em meras superstições e ignorância, conclui-se facilmente que o presidente do tal "Instituto Alfa e Beto", ao rebaixar o ensino superior gratuito a essa condição, quer que o novo ministro da Fazenda (um homem inteligentíssimo, como dizem os donos de faculdades pagas), passe a cobrar mensalidades em universidades públicas.

Vindos de um anônimo e endereçadas a um ministro com concepções ideológicas divergentes das de Joaquim Levy, os apelos e ideias contidos nessa carta não provocariam mais que risos. Mas por trás desse senhor João Batista estão poderosos grupos econômicos privados como, por exemplo, a Confederação Nacional da Indústria e o BG Group, para quem educação pública, gratuita e com professores bem pagos, sobretudo os aposentados, são coisas do atraso. E sua Ong, o tal "Instituto Alfa e Beto", tem ligação oficial com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Já o futuro ministro Levy, como se sabe, vem também do sistema financeiro e empresarial, e há  tempos e abertamente defende essas mesmas teses lhes enviadas via artigo-carta no Estadão. Dá até para desconfiar que foi ele mesmo quem, se não as escreveu, no mínimo as ditou.

Os professores das redes públicas devem ficar alerta.

Clique e veja quem são os parceiros do tal "Instituto Alfa e Beto"

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