Educação, perfume do gás e o cassetete democrático

28/07/2013 08:51

Por Renato Uchôa, educador (Foto: arquivos Dever de Classe)
Manifestos e vigílias não vão nos devolver a vida. A todos nós que enfrentamos a ditadura militar no Brasil. Das diversas formas. Nos anos de flores e de chumbo. E const
ruímos o PT no calor das grandes greves e manifestações de 78/79, em todo o país. O regime de terror na encruzilhada. Um marco importante, a legalização do partido em 82. Independente do Estado e dos Patrões. Desviados da continuidade na forma e conteúdo da luta ou não. Pertinente, foi preciso duas décadas, para que o PT mudasse a essência, a Carta de Princípios, quando da fundação. A quebra e extinção dos núcleos democráticos, por categoria, bairros, outros, foi tangendo para as alianças eleitorais com anjos travestidos de cães e cães de anjos. Esqueceu, queiramos ou não, a sociedade se divide em classes; a que detém os meios de produção e enriqueceu enormemente no governo petista. Facilitado pela política da governabilidade e os pactos dos túneis escuros. Nenhum pudor, nem agradecem. De outro lado, as camadas subalternas, esperando o pagamento de uma dívida das elites que governam há cinco séculos.

Não obstante os grandes avanços em algumas áreas, políticas públicas implementadas; a integração ao mercado consumidor de milhões de brasileiros, expansão dos Centros Tecnológicos, expansão das Universidades Federais; programas de financiamento que tentam situar os emergentes no espaço do que se denomina classe média. Agora querem mais, e muito mais: escolas públicas de qualidade social, hospitais (plano de saúde é caro), moradia, transporte público de qualidade, segurança. Carros potentes e baratos. Enfim, viver o padrão de vida das camadas dominantes.
Como diria Vandré “... Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não...”. A bem da verdade, a geração Samsung 4 , em movimento nas ruas e avenidas do país, desconhece completamente os sacrifícios de todos , inclusive da Presidente Dilma , torturada nas masmorras da Ditadura.Para além da purificação dos movimentos, assépticos, restritivos, violentamente contra as organizações que portem bandeiras ou quaisquer outros símbolos. Tiveram um papel importante na democratização do nosso país e merecem respeito. Portanto, primeiro sintoma de uma inconsciência coletiva. Podem descambar, não obstante o valor simbólico, dimensão social positiva, milhões de manifestantes reivindicando. Ao contrário do que possa parecer, pela justificativa que todos os partidos e instituições, parlamentares, são corruptos. Injustiça a centenas deles, de vários partidos, que defendem os interesses da população na Corte. Composta pelos senadores e deputados.

Importantes, não obstante a desorganização, o caráter de espontaneidade “relativa”. Em um primeiro momento, na ordem do dia a situação dos transportes coletivos: tarifas caras, precariedade do sistema. Após, com ajuda da estranha mídia; o debate sobre o ritual político no Congresso e Casas Legislativas, nos estados e municípios. Legislam em função das camadas dominantes da sociedade. Eis o que o movimento não questiona. Faz século, a atuação dos legisladores brasileiros assombra o mundo. Salários astronômicos e a fidelidade (deles) aos banqueiros, grandes proprietários de terras, grandes empresários e a todos que compõem o bloco dominante. Ventilam apenas, não o que se constitui na essência: Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais, Governadores, prefeitos eleitos por aqueles que também estão nas passeatas. Quando a poeira abaixar, votam em todos eles novamente.

Pelo sim, pelo não, são contra quase tudo e quase nada, na medida em que as questões de fundo, que provocam concretamente a situação de exploração e miséria das camadas subalternas; o lucro dos banqueiros e empresários, no caso do transporte coletivo, nem de longe se questiona. Não é razoável aceitar que a passagem tenha redução em R$ 0,20 ou R$ 1,00 e o Estado destine recursos públicos para o setor. Direta ou indiretamente, com a retirada de impostos importantes que iriam para outros setores: saúde, educação, segurança, moradia, entre outros. E todo mundo bate palmas. Palmas (no fundo) para os empresários do setor. Não perderão nada. Pelo contrário, ganharão tudo.

O morro se mantém na espreita, em todo o Brasil. Assiste a uma parcela da população que cheira ou não, ao invés de cocaína e crack, o perfume do gás lacrimogêneo, spray de pimenta e os “cassetetes democráticos”. Caminhar com rumo é preciso, mais conquistas virão.

Ler tambem deste autor: A educação,o Supremo e o fio da navalha

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