A pós-modernidade e a morte da morte

02/11/2015 09:00

Por Landim Neto, editor do Dever de Classe. Em "Mundo Pós-Moderno", o jornalista e escritor José Arbex Jr discorre brevemente sobre a questão da pós-modernidade e dos efeitos desta sobre a morte. O  livro vem assinado pelo também jornalista Cláudio Júlio Tognoli.

Para a dupla, a morte ou o seu conceito passou por uma profunda transformação. Se antes era "dignificada, celebrada e temida como fronteira insondável, e cultuada e reverenciada com respeito solene", agora banalizou-se, "tornou-se sinônimo de algo indesejável, assunto de hospital, das páginas policiais e de programas sensacionalistas de televisão, ou de guerra, campos de concentração e extermínio político".

Para os jornalistas, a partir da visão que têm dos efeitos da pós-modernidade, admite-se hoje que "no máximo a ciência ainda não descobriu a fórmula para a eternidade, mas está a caminho". "Técnicas geriátricas de revitalização das células, com a possibilidade de transplante de órgãos cada vez mais sofisticados e bem sucedidos; programas de alimentação cientificamente dosados, para impedir a degeneração dos tecidos; programas de congelamento, por tempo indefinido, de pacientes com doenças até agora incuráveis de sua revitalização futura". Tudo isso são indicativos de que a morte morreu. Ou no mínmo está em fase terminal.

Arbex e Tognoli lembram ainda que, além da tecnologia biológica e médica para garantir a extensão humana, existem ainda modernas e cada vez mais aperfeiçoadas técnicas para se garantir com perfeição a reprodução de sons e imagens que criam a sensação da presença virtual  de pessoas que há muito já morreram. Citam, por exemplo, a gravação (Unforgettable) feita em 1993 por Natalie Cole com seu pai, Nat King Cole, falecido em 1965.

Os autores destacam que isso tipo de apelo à morte da morte não ocorre somente entre os grandes mitos da indústria de diversões e entretenimento, como o próprio Nat King Cole e sua filha. Também pessoas comuns podem estocar vídeos de parentes e amigos para, de vez quando, através da evocação da força de suas imagens e sons,"trazê-los de volta ao mundo dos vivos".

Sob o aspecto dos relativismos que permeiam todas as coisas, de fato a morte (real) da morte pode ser ou se tornar algo concreto. Contudo, mesmo em tempos "pós-modernos", a chamada vida eterna (na Terra) continua acessível apenas no campo da imaginação.

Assim, enquanto a morte não morre de verdade, ouçamos a belíssima Unforgettble:

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