A marcha dos indignados

23/10/2011 10:15

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Por Homero de Oliveira Costa  prof. ciência política da UFRN

            O dia 15 de outubro de 2011 pode ser considerado como o dia do primeiro grande protesto mundial contra o sistema financeiro e a crise econômica. Sob o lema “iniciar a mudança global que todos desejamos” dezenas de milhares de pessoas ocuparam as ruas em várias partes do mundo. Segundo seus organizadores, ocorreram manifestações em 82 países e 951 cidades. A data coincidiu com a reunião do chamado G-20, em Paris (o G-20 reúne ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais dos 20 países mais desenvolvidos do mundo) um dos alvos das críticas. Essas manifestações foram chamadas de “a marcha dos indignados”.

            Foram organizadas marchas em algumas das mais importantes cidades do mundo como Paris, Londres, Atenas, Bruxelas, Roma, Lisboa, Barcelona, Madri (na Espanha, os protestos se avolumam desde maio de 2011), Berlin, Frankfurt e Dublin, entre outras cidades européias, mas também em Tóquio, Sidney, Auckland (Nova Zelândia), Seul, em diversas cidades da África (Cairo e Rabat, entre outras), cidade do México, Vancouver, nos Estados Unidos o movimento “Ocupemos Wall Street” fez uma grande manifestação, percorrendo as ruas do centro financeiro de Nova York, na América do Sul (Buenos Aires, Caracas etc., incluindo manifestações no Brasil (Como as que ocorreram, em menores proporções do que em outras partes do mundo no Rio, São Paulo, Curitiba e Brasília) e especialmente no Chile, onde aconteceram as maiores manifestações (Santiago, Valparaiso e Arica).

              Como disse o jornal El País de 16 de outubro, foi a primeira vez que uma iniciativa cidadã conseguiu organizar, de forma coordenada e pacífica, tantas manifestações em lugares tão diferentes.

             Um dos principais alvos das críticas foram o sistema financeiro e as medidas dos governos em relação à crise econômica. Não por acaso, diversas manifestações ocorreram em frente às sedes dos bancos centrais, como a de Frankfurt, capital financeira da Europa continental, com participação de mais de 5 mil pessoas em frente à Sede do Banco Central Europeu.

              As manifestações, em geral, foram pacíficas. A que registrou conflitos mais sérios foi em Roma, na qual alguns carros da policia foram incendiados, houve quebra de vitrines de lojas, agências bancárias, enfrentamento nas ruas com a policia, etc. resultando na prisão de 12 pessoas e 70 feridos.

              Se havia um sentido claramente mais universal, como expressam a amplitude dos países e cidades e alguns focos comuns, como protestos contra a corrupção e as políticas de austeridades dos governos, houve também particularidades locais, como expressam os casos de Roma e Santiago, por exemplo. No primeiro caso, as manifestações foram realizadas um dia após o primeiro ministro Silvio Berlusconi ter o voto de confiança do parlamento italiano, numa decisão polêmica, que ampliou a indignação popular, e no caso do Chile as manifestações foram encabeçadas pelos estudantes contra o governo e em defesa do ensino público e gratuito, conflitos que antecederam o dia 15 de outubro.

            Quais algumas características dos protestos? Primeiro, sua amplitude. Desta vez, teve um caráter mais amplo, houve efetivamente uma internacionalização das lutas, um grande esforço de mobilização que resultou como já afirmado, em manifestações em 82 países e 951 cidades. É importante salientar que elas foram antecedidas por outras, como as que vem ocorrendo desde maio na Espanha, especialmente em Madrid e também pelo recente movimento “ocupemos Wall Street” (nascido em Nova York em setembro de 2011 e que se estendeu por várias cidades dos Estados Unidos).

           Segundo, a forma de mobilização: basicamente foram organizadas pelas redes sociais (embora diversas organizações, com a Attac,[1] por exemplo, tenham participado ativamente) e terceiro, não menos importante, a politização do movimento, com reivindicações como a suspensão do pagamento da dívida, contra o sistema financeiro, contra o FMI, expressa também em lemas como “não somos mercadorias nas mãos dos banqueiros”, “povos do mundo, levantem-se!”, “saiam às ruas, criem um novo mundo” e até “morra o capitalismo, viva o povo!” (Sarajevo, Bósnia Herzegovina).

            O que os uniram foram os flagelos das mesmas políticas. O foco principal foi à crítica aos governos e suas medidas em relação à crise econômica e suas conseqüências. Como disse um dos organizadores das marchas, os governos se comportam como se o primeiro objetivo fosse à proteção dos credores e dos mercados e não das pessoas. A crítica principal é, portanto, em ultima instância, ao capitalismo e a incompetência dos governos, colocando em xeque sua credibilidade.



[1]A ATTAC - Associação para a Taxação das Transações Financeiras para a Ajuda aos Cidadãos no início a tinha como objetivo instituir um imposto sobre movimentações financeiras internacionais (a chamada “Taxa Tobin) visando restringir a especulação financeira, ao mesmo tempo tinha também como objetivo financiar projetos de desenvolvimento social e ecológico. Desde sua criação na França em 1998, ampliou seu âmbito de atuação, com críticas ao neoliberalismo, e a construção de uma rede de plataformas em vários países e entre outras atividades, monitora as decisões da Organização Mundial do Comércio (OMC) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI)s. Um dos seus slogans é "O mundo não está à venda", denunciando a mercantilização da sociedade.

 

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