A decadence sans elegance do Lobão

28/10/2014 12:21
Por Landim Neto

Lobão é sem dúvida muito polêmico, sobretudo em relação às posições políticas que assumiu de uns tempos para cá. Mas não se tornou bastante conhecido apenas por isso. 

Letrista ágil, linguagem moderna, tem produções suas gravadas por respeitados intérpretes nacionais, como Cazuza e Marina. Além disso, já atuou como baterista, é bom vocalista, tem certa intimidade com a guitarra e consta ainda que deu nome e ajudou a fundar uma das mais criativas bandas do chamado pop rock anos oitenta, a Blitz. Lobão é portanto um talentoso artista.

Lobão atuou também como produtor cultural. Editou a revista OutraCoisa, na qual ajudou a divulgar grupos alternativos, sem espaços na grande mídia, como Cachorro Grande e BNegão. E é dele também a iniciativa maior de denunciar a "pirataria oficial" das grandes gravadoras de CDs, numa briga que o tirou do mercado por um bom período.

E, para quem não sabe ou lembra, Lobão apoiou a candidatura Lula em 1989, que defendia um programa anos-luz à esquerda do que Dilma e o próprio Lula hoje defendem. Chegou inclusive a fazer campanha lulista ao vivo no Faustão, o que irritou e muito os marinhos.

Lobão, assim, tem também uma outra história. Não se construiu apenas como o falastrão que hoje vomita enraivecido na Veja e cia um amontoado de asneiras, contra o que imagina, dentre outras maluquices, a "instalação da ditadura comunista cubana no Brasil pelo PT". Logo o PT, que há tempos se deixou levar pelos cantos da sereia do liberalismo, tal qual o próprio Lobão. E logo Cuba, que só tem ditadura, mas não comunismo.

Dizem que o limite entre os extremos é muito tênue. Talvez isso explique por que Lobão declinou, tenha virado um trapo e, de forma desajeitada, passado da lucidez ao delírio. E da inteligência à burrice alarmante, à deteriorização. É certo que isso não o faz desaprender a cantar ou tocar. Mas faz de suas atuais polêmicas um lixo decadente do senso comum.

Nessa linha e por fim, se Lobão fosse reescrever o título de uma de suas melhores composições, "decadence avec elegance", onde mistura inglês e francês para ironizar uma certa decadência com (avec) elegância, teria que trocar a preposição. No tempo atual, para tornar mais clara a decadence sans (sem) elegance do próprio e agora desajeitado Lobão.

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